GRAMATICALIZAÇÃO DO VERBO ESPERAR: UMA ABORDAGEM FUNCIONALISTA

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

09/03/2012

RESUMO

O presente trabalho descreve os usos sincrônicos do verbo esperar na língua portuguesa, partindo da hipótese de que os novos usos gramaticalizados revelariam um caminho de crescente (inter)subjetivização (FINEGAN, 1995; TRAUGOTT, 1995; TRAUGOTT &DASHER 2005; DAVIDSE, VANDELANOTTE &CUYCKENS, 2010). E que esse processo estaria vinculado à emergência de possíveis padrões construcionais (TRAUGOTT, 2003, 2008, 2009). A fim de comprovar tais hipóteses, realizamos também um levantamento diacrônico, o qual buscou comprovar, com maior propriedade, quais usos seriam anteriores e [- (inter)subjetivos]. Os dados sincrônicos recobrem tanto a modalidade oral quanto a modalidade escrita da língua. Os dados orais foram coletados em três corpora distintos, a saber: o corpus do Projeto Mineirês: a construção de um dialeto, o corpus do projeto PEUL - Programa de Estudos sobre o Uso da Língua e o corpus do projeto NURC/RJ - Projeto da Norma Urbana Oral Culta do Rio de Janeiro. Já os corpora sincrônicos escritos foram compostos por textos disponíveis na Internet, retirados de blogs e de revistas de grande circulação nacional (Revista Veja, Revista Isto é, Revista Época, Revista Caras, Revista Cláudia e Revista Ana Maria). Os dados diacrônicos, por sua vez, foram selecionados do corpus do projeto CIPM Corpus Informatizado do Português Medieval e do corpus do projeto Tycho Brahe. Na análise dos dados, descrevemos pontualmente os diferentes usos do verbo esperar, bem como seus possíveis padrões construcionais. Além disso, consideramos a distribuição e a frequência de uso do verbo esperar, uma vez que assumimos que o levantamento da frequência pode atuar como um subsídio relevante na definição de processos de gramaticalização (BYBEE, 2003). Os resultados apontam que o verbo esperar, na língua portuguesa, partiu da acepção inicial e [- subjetiva] de aguardar do tempo e desenvolveu os usos [+subjetivos] de volição e ter expectativa/contraexpectativa. Nesse processo, o verbo esperar deixa de atualizar a noção aspectual de duratividade, que caracteriza sua acepção inicial. Atuando como volitivo, esperar se configura como um verbo modal, passando a projetar o futuro e, por sua vez, ao manifestar as expectativas (ou não) do falante, passa a indicar suas crenças no campo da hipótese. O verbo esperar, conforme verificamos, também figura em outras construções, como a construção espera aí/peraí, a qual, dentre as diferentes funções que pode exercer, se apresenta como marcador discursivo, revelando um uso [+ intersubjetivo] do verbo.

ASSUNTO(S)

gramaticalização (inter)subjetivização gramaticalização de construções verbo esperar grammaticalization (inter)subjectification grammaticalization of constructions verb esperar linguistica

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