Gestão de Competências e a Profissão Docente: Um Estudo em Universidades no Estado de Minas Gerais

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2007

RESUMO

Diante do cenário do ensino superior no Brasil, a tese a que se propôs defender foi sistematizada da seguinte forma: existe uma relação de influência mútua entre os processos envolvidos na gestão de competências docentes, individualizados e individualizantes, e a profissionalização da categoria, processo que se circunscreve à instância coletiva e que, no caso daqueles que militam no ensino superior, tem enfrentado amplas e profundas dificuldades, de variadas ordens. O objetivo central desta tese foi compreender, na percepção do professor, a relação entre a gestão de competências em instituições de ensino superior e o profissionalismo docente. Após a leitura de bibliografias pertinentes aos temas tratados, reformularam-se os conceitos de competência profissional, gestão de competências e profissão, de maneira a abraçar a realidade dos professores nas instituições de ensino superior. Para a consecução do objetivo descrito, realizou-se uma pesquisa descritivo-comparativa, cujo objeto foram os professores que trabalham em instituições de ensino superior de natureza jurídica diferenciada (universidades pública, confessional e comunitária). O enfoque desta pesquisa foi classificado como essencialmente qualitativo. No entanto, no tratamento e na análise dos dados a relação qualidade-quantidade foi considerada. Vários instrumentos de coleta de dados foram utilizados: a análise documental de dados secundários; uma primeira rodada de entrevistas com roteiro livre ou não estruturado com nove docentes; uma segunda rodada de entrevistas com roteiro estruturado, o qual incluiu a aplicação de uma técnica projetiva de associação e que foi realizada com 48 professores; e observação direta. Os dados secundários foram submetidos à análise documental e os dados primários sofreram tratamento e análise em três etapas: preparação, tabulação quantitativa e análise ou categorização temática. Foram utilizadas as técnicas de análise de conteúdo e de discurso para a análise dos dados. O modelo teórico-conceitual adotado nessa pesquisa com profissionais docentes considerou: quatro grupos de atores sociais - professores, instituições de ensino superior, instituições de interesse coletivo e o Estado -, aspectos relevantes de sua atuação no campo das competências e do profissionalismo, relações entre eles e contextos que os permeiam. Após a apresentação e a análise dos dados, perceberam-se nas respostas dos entrevistados, em termos dos esforços pessoais, a necessidade e a mobilização efetiva de uma ou mais competências simultaneamente, fatos necessários diante do caráter interativo da profissão docente. Quanto aos esforços institucionais, observou-se que as IES são dotadas de políticas de gestão de pessoas não muito claras e que nem sempre o profissional faz uso delas, quer por desconhecimento, quer por necessidade de manter-se com um certo grau de descolamento da universidade, quer por autonomia própria. Convém ressaltar que o aspecto coletivo parece tênue nesse ponto, pois nem no interior nas IES, até mesmo via associações de professores, nem no seu derredor, por intermédio de sindicatos e conselhos profissionais, não ocorre uma mobilização nesse sentido. A maioria dos entrevistados desconhece a LDB-1996 e suas decorrências, noticiando mais a respeito dos seus impactos em termos de reformulação de projetos pedagógicos e grades de cursos, do ponto de vista coletivo, e, individualmente, do seu processo de titulação, seu volume de publicações e funções que exerce no interior da IES. No que tange ao profissionalismo, estes fatos podem contribuir negativamente. Nas IES particulares, parece prevalecer uma percepção na qual os professores se sentem mais cobrados do que incentivados; já seus pares da IES pública parecem ter mais clara a dependência maior de si próprio nesses processos, enfatizando que as políticas existem, mas o indivíduo tem de ir ao seu encontro. Assim sendo, as competências profissionais não podem, de fato, ser percebidas de maneira descolada da realidade na qual se efetivam; por outro lado, apesar de suas semelhanças, os docentes percebe m sensíveis diferenças entre si, suas atividades e as IES nas quais trabalham, implicando certo grau de esfacelamento da coletividade, que, certamente, tem sido prejudicial à profissão e a si próprios. Notou-se que a identidade organizacional é mais forte para os professores do que a identidade profissional no que diz respeito aos grupos profissionais abordados. Ou seja, as demandas dos docentes são semelhantes, diferenciando-se mais em função da IES à qual ele se vincula e do modo como seu contrato de trabalho está estabelecido. Em termos de perspectivas de pesquisas, propõe-se uma agenda que contemple aspectos tanto metodológicos como temáticos. Após este estudo, acredita-se que a profissionalização dos docentes esteja caminhando positivamente no sentido do reconhecimento social de suas competências profissionais, cujos processos de formação e desenvolvimento, por mais individualizados e individualizantes que tenham sido, também têm contribuído para sua diferenciação em relação às demais profissões no mercado, no que se refere tanto às especialidades e áreas de atuação como em termos pedagógicos. Sobre estes últimos, as decorrências da LDB-1996 parecem ainda não terem dado todos os frutos que se pretendeu. Refletindo-se sobre a profissionalização da categoria, considerando-se aqui os demais níveis de ensino, percebe-se como caminho viável - e imprescindível - a participação mais efetiva dos docentes do ensino superior nas instâncias coletivas, principalmente as associações institucionais circunscritas a cada IES e os sindicatos de professores, além da promoção de uma aproximação entre ambos.

ASSUNTO(S)

desempenho - teses. universidades e faculdades - corpo docente - teses administração - teses.

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