Georreferenciamento e estudo clínicoepidemiológico dos acidentes escorpiônicos atendidos em Belo Horizonte, no serviço de toxicologia de Minas Gerais

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2006

RESUMO

Os aspectos clínicos e epidemiológicos de 1143 casos de pacientes picados por escorpião, atendidos no ano de 2004, no Serviço de Toxicologia do Hospital João XXIII, da Fundação Hospitalar de Minas Gerais, são descritos e comparados com dados institucionais, em um estudo epidemiológico transversal. O Hospital é referência estadual em emergências gerais, queimaduras, intoxicações e acidentes por animais peçonhentos. Escorpionismo é um problema de saúde pública na área metropolitana da cidade de Belo Horizonte; 942 casos foram atendidos no hospital; os outros 201 casos foram notificados e orientados à distância através do Setor Informativo. Dos casos atendidos no hospital, 627 eram do próprio município, e 315 das cidades da região metropolitana. Foram estudados, também, dados estaduais de todo Brasil, notificados ao Sistema Nacional de Agravos de Notificação, da Secretaria Nacional de Vigilância em Saúde, que foram confrontados com os dados locais. Realizou-se estudo de georreferenciamento e densidade, dos endereços de ocorrência da picada no município de Belo Horizonte, utilizando o programa HOT SPOT DETECTIVE para MAPINFO, versão 1.3. Cerca de 47% dos pacientes trouxeram os escorpiões ao atendimento, identificados como Tityus serrulatus Lutz e Mello, 1822 (99,1%), Tityus bahiensis Perty, 1833 (0,7%) e Tityus adrianoi Lourenço 2003 (0,2%). A maioria dos casos ocorreu entre os meses de agosto e março, da mesma forma que nos dados nacionais para a Região Sudeste. Do total de acidentes, 75,3% ocorreram dentro de domicílios, seguidos do ambiente de trabalho (14,0%). As maiores freqüências de locais de picada foram mãos (29,2%), pés (22,4%) e dedos das mãos (13,2%). As manifestações locais estiveram presentes em 98,1% dos casos e, as sistêmicas, em 17%. A maioria dos atendimentos ocorreu após uma hora da picada (56,1%), com mediana de 60 xxi minutos. Em 4,9% dos pacientes foi necessária soroterapia antiescorpiônica, sendo que 91,3% receberam quatro ou menos ampolas. Manifestações alérgicas ao soro ocorreram em 2,2% dos pacientes. Crianças e adolescentes com idade inferior a 15 anos apresentaram 11 vezes mais chance de usar soroterapia (p<0,001; OR 10,904; IC 95% = 5,699 20,861). As análises dos dados nacionais mostraram: letalidade 0,15%; risco de óbito em idade inferior a 15 anos 18 vezes maior que idade igual ou superior a 15 anos (p<0,0000001; OR = 18,32; IC 95% = 7,41 48,25). Confrontando os dados nacionais e regionais verificou-se que não houve diferença estatisticamente significativa quanto à letalidade (p = 0,6483). A classificação como moderada e grave foi 15 vezes maior no Brasil (p<0,0000001; OR = 14,58; IC 95% = 10,02 21,26). No Brasil, ocorreram 14 óbitos, mesmo com atendimento até uma hora após a picada. Existiu chance duas vezes maior de óbito, no grupo com atendimento após três horas da picada (p = 0,0276; OR = 2,09; IC 95% = 1,07 4,088). Os Estados de Minas Gerais e Bahia, responderam por 63% dos óbitos e 43% dos casos notificados. O georreferenciamento, com a incidência de escorpionismo por distrito sanitário do Município de Belo Horizonte, evidenciou a predominância das Regiões Noroeste e Nordeste, estatisticamente iguais, seguidos pelas Regiões Pampulha, Leste e Norte. Obteve-se o georreferenciamento em 89,93% dos logradouros identificados. Conclui-se que ocorrem diferenças clínicas e demográficas entre regiões; o atendimento precoce do paciente é importante; a reação alérgica ao soro antiescorpiônico é rara; crianças e adolescentes inferiores a 15 anos de idade representam alto risco no escorpionismo; a soroterapia específica não evitou a gravidade do escorpionismo em muitos casos, mesmo aplicada antes de xxii uma hora; existem regiões com maiores incidências de escorpionismo no município de Belo Horizonte.

ASSUNTO(S)

estudos epidemiológicos decs toxicologia decs venenos de escorpião decs escorpiões decs mordeduras e picadas decs antitoxinas decs imunização passiva decs

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