Gênero e profissão: análise das justificativas sobre as profissões socialmente adequadas para homens e mulheres

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

29/03/2010

RESUMO

Nos últimos anos a sociedade de forma geral tem se tornado cada vez mais consciente da multiplicidade de padronizações construídas socialmente. Uma destas padronizações, presente em diversas culturas, é a caracterização dos papéis sociais da mulher, expressada por meio de diferentes conjuntos de ideias no contexto social. No presente estudo, o contexto do conjunto de ideias escolhido foi o do campo das profissões. Para isto, focalizando a instauração das profissões em formatos masculinos e femininos, esperou-se investigar as justificativas elaboradas socialmente a respeito das diferenças existentes entre os tipos de atividades concebidas como mais apropriadas para os homens e para as mulheres. A pesquisa está dividida em dois estudos. Em ambos, a idéia da determinação do gênero no processo de divisão das profissões serviu como foco para a elaboração da pesquisa. No Primeiro Estudo, foram entrevistadas 301 pessoas da população geral da cidade de João Pessoa, sendo 178 mulheres (59,1%), com idades compreendidas entre 15 e 74 anos (M = 1,8; DP = 0,79) e se apresentando de forma equilibrada entre os três níveis de escolaridade ponto que serviu como eixo norteador da pesquisa, já que se esperava saber se as representações construídas socialmente a respeito da relação gênero x escolha das atividades profissionais poderiam ser influenciadas pelo grau de escolaridade dos respondentes. Por meio de uma entrevista semiestruturada, os respondentes foram solicitados a se posicionar diante de pontos como características das profissões vistas como mais adequadas para as mulheres e para os homens e possibilidade de ascensão em profissões que vão contra esta adequação. Com o objetivo de realizar um levantamento das profissões, a entrevista solicitou que fossem citadas as profissões/atividades consideradas socialmente como mais apropriadas para ambos os gêneros. No total foram mencionadas por volta de 90 profissões caracterizadas como femininas e 150 como masculinas. Para as mulheres, as profissões mencionadas revelaram, em sua maioria, um perfil materno e relacionado ao cuidar. As profissões mais citadas para os homens não refletiram a ideia geralmente associada à competência intelectual encontrada na literatura, já que estiveram relacionadas prioritariamente com a força física. Para a análise dos repertórios, utilizou-se o software ALCESTE, e, a partir das falas, observou-se que foram utilizadas expressões justificando a divisão das profissões em formatos masculinos e femininos. No geral, os resultados não se mostraram distintos em função do nível de escolaridade dos respondentes. No Segundo Estudo, a finalidade foi delinear as representações elaboradas por parte dos profissionais que exercem atividades tidas socialmente como apropriadas ou não ao seu gênero. Para isto, foram escolhidas as duas profissões com formação escolar de Nível Superior mais citadas no Primeiro Estudo consideradas como apropriadas para as mulheres e para os homens: Pedagogia e Engenharia. Por meio de entrevistas semiestruturadas foram entrevistados profissionais de ambos os sexos. Utilizando o ALCESTE e realizando uma análise semântica, foi possível observar que os repertórios produzidos pelos profissionais são perpassados pela ideia da liderança como elemento mais saliente ao se organizar as atividades em função do gênero. No caso dos profissionais da Engenharia, a discriminação voltada para as mulheres apareceu relacionada ao argumento da dificuldade feminina em liderar dentro de um contexto eminentemente masculino, enquanto que no contexto de trabalho da Pedagogia, o argumento da maior familiaridade masculina com a direção justifica sua ocupação nos cargos de maior status. De forma geral vê-se que os resultados são reveladores das representações a respeito dos papéis sociais de cada gênero no campo de trabalho.

ASSUNTO(S)

profissão preconceito gênero, liderança psicologia social occupation prejudice gender leadership

Documentos Relacionados