Frugivoria e dispersão de sementes de palmiteira (Euterpe edulis, Martius Arecaceae) na Mata Atlantica, sul do Estado de São Paulo

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DATA DE PUBLICAÇÃO

1996

RESUMO

A frugivoria e a dispersão de sementes de plantas tropicais por aves têm despertado grande interesse para estudos de interação frugívoro-planta, sendo usadas como base para numerosas hipóteses sobre este mutualismo. Euterpe edulis é a palmeira mais abundante da Mata Atlântica e uma de suas espécies mais características. Este estudo investiga a ecologia da dispersão de E. edulis no Parque Estadual Intervales, uma reserva com 50.000 ha de Mata Atlântica relativamente bem preservada, localizada no sul do estado de São Paulo. A fenologia de 50 indivíduos mostrou que a frutificação é um evento longo, ocorrendo no inverno, entre maio e outubro, com pico em agosto e setembro. Não houve variação na frutificação entre os anos amostrados. A população frutifica assincronicamente, apesar da maturação dos frutos ser sincrônica dentro do indivíduo. A produção de frutos por indivíduo foi grande, sendo que cada infrutescência apresentou 3.300 frutos em média. Normalmente, cada indivíduo produziu duas infrutescências por estação reprodutiva. Foram utilizados dois métodos para observar as aves visitantes: árvore-focal e transecções. Durante 33 horas de árvore-focal foram observadas seis espécies de aves, sendo as mais importantes Lipaugus /anioides e Platycichla flavipes. Após o mês de agosto, este método se revelou improdutivo, com poucas aves sendo registradas. Nas transecções foram observadas 21 espécies de aves e um mamífero visitando infrutescências de E. edulis. As aves Lipaugus lanioides, P. flavipes e Pyrrhura frontalis foram as espécies com maior número de visitas. Lipaugus lanioides parece ser o melhor dispersor de E. edulis, já que permanece pouco tempo na infrutescência. Platycichla flavipes permaneceu muito tempo na infrutescência, o que talvez esteja relacionado à sua coloração críptica em meio aos frutos. Pyrrhura frontalis agiu como "ladrão de frutos", comendo a polpa e deixando cair a semente intacta embaixo da copa, exercendo um comportamento negativo para a dispersão das sementes, principalmente levando em conta a grande quantidade de frutos consumidos. Outras aves importantes foram Selenidera maculirostris, Baillonius bailloni, Trogon viridis, Penelope obscura e Pipile jacutinga. Brotogeris tirica agiu como predador de sementes imaturas, assim como P. frontalis. O mamífero Sciurus ingrami predou sementes imaturas e maduras. A estratégia reprodutiva de Euterpe edulis pode ser caracterizada como produção de frutos de pericarpo fino, com pouco investimento em polpa, agrupados em grandes infrutescências que exercem a função de atrair frugívoros. Os frutos são oferecidos durante o inverno, época com menor disponibilidade de recursos, sendo que o tamanho relativamente grande do fruto limita o conjunto de frugívoros visitantes. Indivíduos que frutificam mais cedo na população (no final do verão) tem taxa de remoção de frutos mais lenta, provavelmente devido à competição com outros recursos. A frutificação longa durante um período de baixa disponibilidade de alimento para frugívoros caracterizaria um recurso-chave, embora não tenha sido monitorada a disponibilidade de outros recursos, sendo necessário estudos adicionais. Há evidências de que E. edulis representa um papel importante na manutenção da comunidade de frugívoros no Parque Estadual Intervales durante períodos de menor disponibilidade de recursos. A exploração predatória dos palmitais pode ter consequências drásticas para a comunidade de frugívoros da Mata Atlântica, eliminando um recurso essencial para a manutenção da integridade biótica deste ecossistema

ASSUNTO(S)

fenologia vegetal palmito ecologia vegetal ave palmeira sementes - disseminação mata atlantica

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