Foucault e a verdade / Foucault and the truth

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2005

RESUMO

O presente estudo aborda a possibilidade de uma história crítica da verdade no pensamento de Michel Foucault. De Descartes a Husserl, passando pela crítica kantiana, a verdade é reconhecida como um objeto da filosofia e uma propriedade do sujeito, seja como consciência transcendental, seja como atividade empírica. No entanto, para Foucault, aquilo que denominamos verdade é indissociável de um jogo que envolve a dispersão histórica do sujeito, a crítica política das práticas institucionais e a constituição de um êthos filosófico. Em primeiro lugar, desde que foi constituído como objeto histórico entre domínios de saberes anteriores e exteriores ao seu pensamento, o sujeito não pode ser considerado o fundamento da verdade. Nesse aspecto, uma arqueologia do saber e uma genealogia do sujeito não deixam de ser um ceticismo metodológico diante de quaisquer universais antropológicos e diante de uma verdade originária. Em segundo lugar, se não há um sujeito universal portador da verdade, é porque ela é produzida e exigida como razão de ser de certas estratégias de poder que circulam no processo de constituição das ciências humanas. Dependendo do domínio estudado e num dado momento de sua história, um jogo de regras é instituído distinguindo o verdadeiro do falso e atribuindo ao verdadeiro, efeitos específicos de poder. Como se percebe, a crítica pensada como legitimação dos limites do conhecimento em relação ao erro e como afirmação da ciência diante da ideologia não é o caminho escolhido para tratar da verdade. Pelo contrário, trata-se de situá-la a partir de sua não-neutralidade, do seu jogo estratégico e do papel político que ela desempenha. Não se pode compreender a verdade fora do jogo do poder, principalmente quando ele é pensado enquanto governo das condutas. A exigência da verbalização infinita nas práticas confessionais e da obediência incondicional posta em funcionamento no monaquismo cristão são alguns exemplos de uma prática de poder que reclama de uma verdade para sujeitar a individualidade. Enfim, diante do jogo do poder, a investigação de Foucault pode ser reconhecida como uma genealogia da atitude crítica, o modo pelo qual o questionamento do poder em sua necessidade é condição para uma nova relação com a verdade. Os desdobramentos de uma política da verdade desembocam numa subjetivação ética da verdade, num êthos filosófico. Não se trata da descoberta de uma verdade escondida no sujeito, mas de um jogo etopoético que implica a transformação de sua maneira de ser; tampouco se trata de saber se alguém alcança a verdade a partir de uma evidência do Cogito, mas de reconhecer aquele que diz a verdade pela atitude corajosa da franqueza do seu discurso contra a opinião do senso comum. A história crítica da verdade elaborada por Foucault não pode ser pensada a partir de uma delimitação epistemológica, mas nos termos de uma política e de uma ética. Ela constitui um modo singular de aplicação de uma história crítica do pensamento

ASSUNTO(S)

pensamento truth critica filosofia subject sujeito thought critic foucault, michel, 1926-1984 - crítica e interpretação

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