FOTOSSÍNTESE E CRESCIMENTO EM DIÂMETRO DE ÁRVORES EM FUNÇÃO DA TEMPERATURA E DA PRECIPITAÇÃO NUMA FLORESTA PRIMÁRIA DE TERRA-FIRME NA AMAZÔNIA CENTRAL / Photosynthesis and diameter increment of trees as a function of temperature and precipitation in a terra-firme rain forest in central Amazonia

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

22/05/2009

RESUMO

As mudanças no clima previstas para as próximas décadas (mudanças na temperatura do ar e na precipitação) podem ter efeito sobre a assimilação de carbono pelas folhas e, consequentemente, sobre o acúmulo de biomassa nas árvores da região amazônica. O objetivo deste trabalho foi determinar a influência da temperatura e da precipitação na fotossíntese e no crescimento em diâmetro de árvores de uma floresta primária de terra-firme da Amazônia central. Os parâmetros microclimáticos foram medidos com uma estação micrometeorológica (Li 1401, Li-Cor, EUA). A análise do crescimento em diâmetro foi obtida a partir de medições mensais do diâmetro de 400 árvores (DAP ≥ 10 cm, selecionadas ao acaso) durante 2006 e 2007, sendo a biomassa estimada por meio de uma equação alométrica desenvolvida na área do estudo. A fotossíntese máxima (Amax) e potencial (Apot) foram medidas com um analisador de gás infravermelho (Li- 6400, Li-Cor) e os parâmetros da fluorescência (Fo, Fm e a relação Fv/Fm) foram medidos com um fluorômetro portátil (PEA, Hansatech, GB) em três períodos do dia (6 - 10 h, 10 - 14 h, 14 - 18 h) durante a época seca e a chuvosa. As árvores cresceram em média 1,99 mm ano-1 em diâmetro. Byrsonia duckena W. R. Anderson (Malpighiaceae), Tachigalia venusta Dwyer (Fabaceae: Caesalpinioideae), Inga laurina (Swartz) Willd. (Fabaceae: Mimosoideae) e Sclerorema micranthum Ducke (Bombacaceae) foram as espécies que apresentaram maior incremento anual em diâmetro (4,3 - 5,8 mm ano-1) enquanto que as espécies com menor incremento anual (0,6 mm ano-1) foram Gustavia augusta L. (Lecythidaceae) e Mezilaurus itauba (Meiss.) Taubert ex Mez (Lauraceae). O acúmulo de biomassa acima do solo e de carbono (para o total de 400 árvores) foi estimado em 4,5 Mg ano-1 e 2,2 Mg ano-1, respectivamente. A variação mensal da precipitação, da irradiância (mol m-2 dia-1) e temperatura do ar (média, máxima e mínima) não influenciou o incremento médio mensal em diâmetro das árvores. Entretanto, o número de horas por dia em que a temperatura permaneceu abaixo da média diária da temperatura mínima do período do experimento (22,6 C) mostrou relação positiva com o incremento em diâmetro das árvores, sugerindo que quanto menor a temperatura noturna, menor a respiração, o que aumenta o crescimento em diâmetro das árvores. O teor de umidade da madeira foi maior na época chuvosa do que na época seca, enquanto que para o teor de umidade da casca não houve diferença entre as épocas do ano. Os teores de umidade da madeira e da casca variaram de, respectivamente, 26 a 50 % e de 31 a 66 %, sendo a casca mais úmida que a madeira em todas as espécies. O teor de umidade da madeira apresentou relação negativa com a densidade da madeira, sugerindo que as árvores com madeiras mais densas possuem menos espaços disponíveis para o acúmulo de água. A densidade da madeira variou entre espécies, sendo a média de 0,74 g cm-3, com 53,3% das espécies com densidade maior que 0,75 g cm-3. A densidade da madeira também mostrou correlação negativa com o incremento em diâmetro, pois espécies com densidade alta crescem mais lentamente. O incremento em diâmetro não mostrou relação com o teor de nitrogênio total foliar, sugerindo que árvores com o mesmo teor de nitrogênio foliar possuem incremento em diâmetro variados. A fotossíntese máxima (Amax) variou entre espécies, de 14 μmol m-2 s-1 em Coussapoa orthoneura Standl (Cecropiaceae) a 4 μmol m-2 s-1 em Mabea angulares G. Dem Holl. (Tiliaceae). Amax foi maior no período de 06 - 10 h e na época seca para a maioria das espécies. A variação diurna e sazonal de Amax foi atribuída à variação na condutância estomática. A fotossíntese potencial (Apot) variou entre espécies, porém não apresentou diferença entre os horários do dia e entre as épocas do ano, com a exceção de M. angulares no período de 14 às 18 h, o que pode ser explicado pela redução na condutância do mesofilo. Os parâmetros da fluorescência (Fo, Fm e relação Fv/Fm) variaram diurnamente, apesar de não ter havido diferença entre as épocas do ano. Não houve fotoinibição em Goupia glabra Aubl. (Celastraceae) e Inga paraensis Ducke (Fabaceae: Mimosoidae), no entanto a recuperação da relação Fv/Fm revelou que houve fotoinibição dinâmica em M. angulares e C. orthoneura. Concluindo, temperaturas noturnas acima da média diária da temperatura mínima do período do experimento levaram a um menor incremento em diâmetro das árvores, o que poderia ter efeitos importantes no balanço de carbono da floresta, haja vista as previsões de aumento na temperatura média global para as próximas décadas. Finalmente, o incremento em diâmetro mostrou-se constante ao longo do ano, embora as taxas de fotossíntese saturada por luz (Amax) tenham sido, no geral, maiores na época seca, o que mostra que o incremento em diâmetro é o resultado da interação de uma série de fatores e não apenas dos ganhos de carbono via fotossíntese.

ASSUNTO(S)

Árvores - crescimento - efeito da temperatura fotossíntese madeira - densidade biomassa florestal carbono - medição recursos florestais e engenharia florestal

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