Fobia social generalizada: um estudo comparativo de duas modalidades terapêuticas

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2009

RESUMO

INTRODUÇÃO A fobia social (FS), também conhecida como transtorno de ansiedade social (TAS), é um transtorno de ansiedade crônico que causa prejuízo na qualidade de vida. O seu subtipo generalizado (FSG) é prevalente e incapacitante, estando associado a um pior prognóstico. Apesar da eficácia de ambos os tratamentos psicoterápico e farmacológico, como monoterapia, na redução dos sintomas da FSG, somente dois terços dos pacientes que recebem tratamento são considerados respondedores, e apenas metade desses atinge remissão dos sintomas. A maioria dos pacientes permanece sintomática após o tratamento inicial. Até o presente momento, poucos estudos têm-se preocupado em como aumentar a resposta ao tratamento na FSG. OBJETIVOS O objetivo principal do presente estudo foi comparar a eficácia da terapia psicodinâmica em grupo (PGT) mais clonazepam (CNZ) versus apenas CNZ como uma estratégia de potencialização no tratamento da FSG quanto a medidas de funcionamento global, sintomas de ansiedade social, qualidade de vida e estilos defensivos. Um dos objetivos específicos deste estudo foi elaborar um manual de tratamento, intitulado “Terapia psicodinâmica em grupo para fobia social generalizada”. MÉTODOS Cinqüenta e oito pacientes adultos, com diagnóstico de FSG, de acordo com os critérios do Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-IV), participaram de um ensaio clínico randomizado de 12 semanas: 29 pacientes foram submetidos ao tratamento combinado (PGT mais CNZ) e 28 receberam apenas CNZ. Os resultados foram avaliados sob duas perspectivas: (I) clínica; (II) psicodinâmica. A avaliação clínica dos resultados incluiu a Escala de Impressão Clínica Global- Melhora (CGI-I), como medida de desfecho primária, e a Escala de Fobia Social de Liebowitz (LSAS), o Instrumento para Avaliação da Qualidade de Vida da Organização Mundial de Saúde, Versão Breve (WHOQOL-Bref), o Inventário de Depressão de Beck (BDI), bem como a proporção de respondedores (definida como CGI-I ≤ 2, “muito melhor” ou “muitíssimo melhor”, com base apenas em sintomas de ansiedade social) e o percentual de pacientes em remissão total de acordo com duas definições diferentes: a) escore total da LSAS ≤ 30; b) escore da CGI-I igual a 1, como medidas de desfecho secundárias. A avaliação psicodinâmica dos resultados incluiu os três estilos defensivos – maduro, neurótico e imaturo – como medidas de desfecho primárias avaliados pelo Questionário de Mecanismos de Defesa (DSQ-40). Todas as medidas de eficácia foram aplicadas em três períodos sucessivos entre março e novembro de 2005. RESULTADOS Dados de 57 pacientes (população intent-to-treat) mostraram que o grupo PGT mais CNZ apresentou uma melhora significativamente superior em relação ao grupo CNZ (p=0,033) na CGI-I. Não houve diferença significativa entre os dois grupos nas medidas de desfecho secundárias, embora, de acordo com a CGI-I igual a 1 ou 2 como critério de resposta, a diferença na taxa de resposta entre os dois grupos aproximou-se da significância estatística (79,3% versus 53,6%, respectivamente; p=0,052). No que diz respeito a mudanças em estilos defensivos, em ambos os grupos estes se modificaram ao longo das 12 semanas. No entanto, apenas no estilo defensivo neurótico houve diferença significativa entre os grupos ao longo do tempo, com uma pequena redução no grupo de tratamento combinado, e um aumento no grupo CNZ (pinteraction =0,045; ηp 2=0,064). Os resultados das mudanças de estilos defensivos foram controlados em modelos multivariados, considerando-se sintomas de FSG e mudança sintomática ao longo do tempo, dois confundidores conhecidos nesse tipo de estudo. CONCLUSÃO Este foi o primeiro estudo a comparar PGT combinada com medicação versus apenas medicação no tratamento da FSG. Apesar de algumas limitações, nosso estudo sugere que o acréscimo de PGT pode ser uma estratégia de potencialização promissora no tratamento da FSG com clonazepam, mostrando alguns ganhos no funcionamento global e em mudanças em estilos defensivos neuróticos no sentido de maior adaptação, mesmo a curto prazo. Estudos futuros deverão investigar o efeito de protocolos de tratamento mais longos, examinar a eficácia da combinação de PGT com diferentes medicamentos ou com terapia cognitivo-comportamental como estratégias de potencialização no tratamento da FSG.

ASSUNTO(S)

transtornos fóbicos psicoterapia de grupo qualidade de vida clonazepam

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