Florística e estrutura da comunidade arbustivo-arbórea em florestas naturais e restauradas com Araucaria angustifolia (Bertol.) O. Kuntze no estado de São Paulo, Brasil / Floristic composition and structure of the tree-shrub layer in natural and restored forests with Araucaria angustifolia (Bertol.) O. Kuntze on São Paulo state, Brazil

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

28/03/2011

RESUMO

A Floresta Ombrófila Mista vem sofrendo desde meados do século XIX uma drástica redução territorial no Brasil. Estima-se que esta fitofisionomia ocupe atualmente cerca de 1 a 4% da sua cobertura original. Além disso o conhecimento acerca da estrutura, composição e dinâmica das florestas de araucária paulistas ainda é incipiente, tornando a conservação destes ecossistemas bastante crítica. Este trabalho encontra-se estruturado em três capítulos. O primeiro deles teve como objetivos avaliar a efetividade do reflorestamento puro de Araucaria angustifolia como estratégia de restauração florestal e os efeitos do fogo na composição florística e na estrutura deste reflorestamento. Para tanto, foram selecionados dois reflorestamentos com Araucaria angustifolia, de idade e condições ambientais semelhantes, denominados Reflorestamentos I e II (RI e RII). Em RI, não há histórico de perturbação por fogo a partir do plantio inicial em 1959 (testemunha). Já RII, implantado em 1958, foi submetido à queima acidental em julho de 2001. Para amostragem do estrato superior (CAP >15cm) foram alocadas 17 e 8 parcelas permanentes de 20x10m nos reflorestamentos RI e RII, respectivamente. Em cada uma destas parcelas foram lançadas aleatoriamente cinco sub-parcelas de 1x1m , para amostragem do estrato inferior (altura >30 cm e CAP <15 cm). Em RI foram amostrados 836 indivíduos arbustivo-arbóreos, distribuídos em 64 espécies, 44 gêneros e 31 famílias. Já em RII foram observados 175 indivíduos, distribuídos em 24 espécies, 20 gêneros e 16 famílias. O reflorestamento RI apresentou valores estatisticamente superiores em relação à RII, em ambos os estratos, para densidade, dominância, riqueza e diversidade. A estrutura diamétrica seguiu o padrão J-invertido, em ambas as áreas. No entanto, o fogo reduziu significativamente o número de indivíduos nas primeiras classes de diâmetro. Desta forma, o reflorestamento RII ainda expressa claramente o efeito da queima, a qual mostrou-se mais severa para o estrato regenerante. Por sua vez, o segundo capítulo teve por objetivos caracterizar a composição florística, diversidade e estrutura do componente adulto e regenerante em um trecho de floresta secundária sob Araucaria angustifolia, na Estação Ecológica de Bananal, SP, Brasil; bem como avaliar o potencial catalítico da espécie na colonização de áreas antropizadas inseridas numa matriz florestal em bom estado de conservação. Para tanto foi utilizado a mesma metodologia descrita anteriormente, porém com uma maior área amostral, composta por 43 parcelas com 5 subparcelas cada. Além disso, foi realizado o levantamento florístico pelas principais trilhas da Estação, a pé e sob veículo motorizado. Foram amostrados no componente adulto 1856 indivíduos arbustivo-arbóreos distribuídos em 129 espécies, 79 gêneros e 45 famílias botânicas. Já entre os regenerantes foram contabilizados 1024 indivíduos arbustivo- arbóreos, distribuídos em 95 espécies, 58 gêneros e 33 famílias botânicas. Considerando os levantamentos florísticos e fitossociológicos, foram registradas 200 espécies, distribuídas em 105 gêneros e 53 famílias botânicas. O Índice de Diversidade de Shannon (H) estimado foi de 3,65 e 3,55 para os componentes adulto e regenerante, respectivamente. Estes mostraram-se semelhantes floristicamente (0,29 e 0,57 pelos Índices de Jaccard e Sorensen, respectivamente), com 64 espécies em comum. A estrutura diamétrica da comunidade segue o padrão J-invertido; o que não ocorre na população de A.angustifolia, indicando o comprometimento de sua manutenção na comunidade. Em ambas as áreas sob sucessão secundária avaliadas, a espécie demonstrou potencial para aplicação em projetos de restauração de áreas antropizadas inseridas numa matriz florestal em bom estado de conservação, ainda que em plantios puros, contrariando as exigências estabelecidas na resolução n 08/2007 da Secretaria do Meio Ambiente do estado de São Paulo. A auto-ecologia da espécie favorece a catalização da sucessão secundária sob suas copas. Por último, no terceiro capítulo objetivou-se caracterizar a composição florística, diversidade e estrutura do componente adulto e regenerante em um trecho de Floresta Ombrófila Mista na Estação Ecológica de Itaberá, SP, Brasil; bem como avaliar o estado de conservação da população de Araucaria angustifolia e suas relações com o estágio sucessional do fragmento. A metodologia das demais áreas foi novamente utilizada, porém com 50 parcelas com 5 subparcelas cada. Foram amostrados no componente adulto 1429 indivíduos arbustivo-arbóreos, distribuídos em 135 espécies, 93 gêneros e 47 famílias botânicas; cuja área basal foi estimada em 33,97m. Já entre os regenerantes foram observados 758 indivíduos, distribuídos em 93 espécies, 66 gêneros e 39 famílias botânicas; equivalente a uma densidade total absoluta de 30.320 Ind./ha. Ao todo foram registradas pelos levantamentos florístico e fitossociológico 178 espécies, pertencentes a 106 gêneros e 52 famílias. O Índice de Diversidade de Shannon ( ) estimado foi de 4,12 e 3,5 para os componentes adulto e regenerante, respectivamente. Estes mostraram-se muito semelhantes floristicamente (0,40 e 0,57 pelos Índices de Jaccard e Sorensen, respectivamente), com 65 espécies em comum. A análise de agrupamento evidenciou maior influência das formações florestais vizinhas na flora da Estação, isolando-a das demais Florestas Ombrófilas Mistas do sul do Brasil e da Serra da Mantiqueira. A estrutura diamétrica da comunidade segue o padrão J-invertido. A baixíssima densidade e multi-interrupção da distribuição diamétrica de A.angustifolia impossibilitou o ajuste e teste do modelo exponencial. Por meio de critérios florísticos e estruturais, constatou-se que o fragmento encontra-se atualmente em avançado estágio sucessional. A ausência de indivíduos amostrados no componente regenerante, somado aos raros exemplares nas menores classes de diâmetro e às condições limitantes do entorno, evidencia a impossibilidade desta população auto-sustentar-se em longo prazo, causando a extinção do ecótipo local, descaracterizando a vegetação da unidade como Floresta Ombrófila Mista pela perda de sua espécie definidora.

ASSUNTO(S)

conservacao da natureza forest restoration atlantica forest phytossociology restauração florestal mata atlântica fitossociologia

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