Física e masculinidades: microanálise de atividades de investigação na escola

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2009

RESUMO

O estudo investiga um conjunto de dimensões latentes nas interações sociais ocorridas em aulas de física que interferem na aprendizagem individual e coletiva em sala de aula. Com base no fato de que as identidades sociais construídas em torno da física são tradicionalmente associadas aos homens e à masculinidade, defende-se a tese de que, nessas aulas, existe uma interferência recíproca entre representações de física, configurações de masculinidade e oportunidades de aprendizagem. As questões fundamentais que o estudo se propõe a responder são: que manifestações de masculinidade se revelam nas representações de física que despontam nas interações em sala de aula? Como as masculinidades manifestadas por diferentes alunos interagem nas situações em que aquelas representações de física se apresentam? Que interferências se observam sobre as configurações de masculinidade à medida que os alunos vivenciam diferentes oportunidades de aprendizagem da física? Que interferências se observam sobre a maneira que os alunos vivenciam as oportunidades de aprendizagem da Física em função das diferenças de suas configurações de masculinidade? A metodologia de investigação articulou o referencial analítico de uma teoria de gênero com acompanhamento de eventos de sala de aula com perspectiva etnográfica para a investigação das configurações das experiências e práticas masculinas nas interações em sala de aula. Esse referencial analítico possibilitou a identificação de dinâmicas de poder, padrões de resistência, subordinação e marginalização presentes nas relações e práticas de gênero que se configuram em situações de aprendizagem. Três turmas de primeira série do ensino médio foram acompanhadas durante todas as aulas de física, 2007 e 2008. Ao longo desse período, realizou-se a filmagem de várias aulas e gravaram-se conversas ocorridas durante a realização de atividades em grupo. Com base no acompanhamento das aulas traçou-se o perfil de representações de física de cada aluno e aluna. Uma microanálise etnográfica de eventos analisou a correlação entre manifestações de masculinidade e representações pessoais de física durante a vivência de oportunidades de aprendizagem. Os resultados indicam que diante de diferentes representações de física as interações nos grupos de aprendizagem ocorreram segundo os perfis de masculinidade-feminilidade manifestados por alunos e alunas. Nessas interações configuraram-se padrões de resistência, relações de poder e colaboração que influenciaram diretamente no desenvolvimento dos grupos e de seus membros. Identificaram-se nuances do modelo de masculinidade hegemônica ocidental latentes nas diversas relações que se estabeleceram nos grupos que inibiram a relação colaborativa, a valorização da diversidade e o respeito mútuo. Nas aulas em que todos os alunos e alunas vivenciaram oportunidades de aprendizagem, as representações de física se manifestavam, mas ao mesmo tempo se modificavam em função dessa vivência. Nesses momentos as predisposições hegemônicas deram lugar a relações de colaboração. As tensões identificadas neste estudo são representativas de tensões latentes no cotidiano da sala de aula e podem ocorrer em outras situações de aprendizagem

ASSUNTO(S)

educação teses física estudo e ensino

Documentos Relacionados