Falas vazias: língua, referência e sujeito na demência

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2007

RESUMO

Este trabalho aborda uma questão suscitada pelo meu encontro com falas de sujeitos com demência, ou seja, com manifestações sintomáticas que, na literatura sobre o assunto, são designadas como anomia - diminuição de vocabulário funcional e como fala vazia - falas que, embora articuladas e coesas, são esvaziadas de sentido, carente de referências. Parto de um levantamento bibliográfico não exaustivo, porém extenso, de trabalhos na área da demência. Explorei com maior detalhe estudos referentes à Doença de Alzheimer (DA), desenvolvidos nos campos clínicos na Medicina e na Fonoaudiologia. Pude observar que, apesar das diferenças quanto ao tipo de explicação sobre suas causas e quanto ao modo de descrição dos sintomas na fala, em todas as pesquisas sobre a DA a perturbação lingüística é caracterizada em termos de perda da referência externa. Argumento que, em todos eles, a linguagem é implicitamente assumida como uma nomenclatura. Em outras palavras, ela é código, pode ser abordada a partir de aparatos categoriais (gramaticais, pragmáticos ou semânticos) e tem, declaradamente, as funções representativa e designativa. Trata-se de uma visão fortemente ligada às concepções de linguagem e de signo que movimentaram a Filosofia Clássica, que deixam em saliência a concepção de sujeito psicológico. Essa perspectiva sobre a linguagem se estende, com perdas conceituais, sem dúvida, para os campos clínicos. Nesta tese, discuto tais abordagens (na verdade redutíveis a uma). Tomo o partido de Saussure porque dou reconhecimento à enunciação da ordem própria da língua, um corte em relação ao pensamento ocidental sobre a linguagem e sobre o signo. Segundo Milner (1978), Saussure não é mais um na história das idéias lingüísticas e filosóficas sobre a linguagem: ele é UM. Seu pensamento é exigente e oferece resistência. Assumo, com Saussure que a língua não é nomenclatura e procuro retirar conseqüências teóricas e empíricas para a escuta e explicação de sujeitos com demência. Procuro fazer valer as leis de referência interna da linguagem que deslocam o signo para o lugar de efeito de suas operações. Com base neste solo teórico, encontro na ditas falas vazias, falas plenas de uma verdade sobre a relação profunda e indissolúvel do sujeito com a linguagem

ASSUNTO(S)

fala vazia disturbios da fala -- terapia empty speech anomia linguistica aplicada anomia alzheimer, doenca de

Documentos Relacionados