Fado e morte na tetralogia piauinense: uma estética da miséria humana

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2006

RESUMO

Composta pelos romances Beira Rio Beira Vida (1965), A Filha do Meio Quilo (1966), O Salto do Cavalo Cobridor (1968) e Pacamão (1969), a Tetralogia Piauiense, de Assis Brasil, apresenta um complexo panorama social e psicológico. O viver de suas personagens parece estar condicionado a forças que não podem ser controladas e, por isso, assumem contornos místicos e ocultos que tornam complicada a análise da obra. Qual seria a origem dessas forças? Pode o homem realmente crer na possibilidade de modificar a própria vida ou estaria ela determinada pelo traçado invisível de uma mão divina? Na busca por respostas, as visões apresentadas nos romances a respeito da morte e as concepções de destino apontam caminhos fundamentais para uma compreensão maior do mundo ficcional de Assis Brasil. Essa dupla problemática da crença na incapacidade de mudança da vida e do comportamento diverso assumido diante da morte determinou o objetivo principal dessa dissertação: comprovar como as visões de fado e morte apresentadas nos romances da Tetralogia Piauiense denunciam a condição miserável do homem, seja sob um ponto de vista material ou espiritual. Uma miséria que se configura a partir de um contexto social bem específico, a cidade de Parnaíba (PI), mas que possui um caráter universal perturbador. O exame da questão revelou que, na maioria das vezes, aquilo que as personagens julgam ser resultado da ação do destino (leia-se, o divino) é apenas conseqüência da estratificação social. O fado que acreditam cumprir devido a uma falha de comportamento, uma praga ou desígnios divinos, nada mais é que a concretização da má-distribuição de renda, da discriminação e da exploração, praticados pelos mais abastados da comunidade e, até mesmo, por líderes religiosos. O seu posicionamento diante da própria morte e da morte do outro também é um indicativo do controle que pensam ter ou não sobre as próprias vidas. Portanto, via de liberdade ou forma de punição, presente no dia-a-dia (através da exclusão social) ou o final físico de uma existência inútil, a morte é sempre uma via de acesso ao interior dessas figuras humanas, tão descrentes e conformadas diante do mundo que lhes é apresentado. Ao final da dissertação, verifica-se a relevância das temáticas do fado e da morte, seja na compreensão aguda do objeto escolhido, seja na denúncia de um quadro social injusto. Conclui-se que a obra em questão não aponta somente os culpados e as vítimas de um sistema opressor e desigual, mas acena positivamente à possibilidade de transformação dessa realidade miserável.

ASSUNTO(S)

morte na literatura fado brazilian fiction fados death in literature ficção brasileira - história e crítica

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