Exposição pré-natal à cocaína e efeitos neurocomportamentais no recém-nascido

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2007

RESUMO

Introdução: Estudos de prevalência têm demonstrado a importância do problema do uso de cocaína e de outras drogas durante a gestação. Esta pesquisa foi a primeira realizada na América Latina com o objetivo de avaliar o neurocomportamento do recém-nascido (RN) exposto à cocaína. Foram estudadas também as repercussões obstétricas e neonatais. Metodologia: A pesquisa foi realizada através de um estudo transversal. Foram incluídos 34 RNs expostos à cocaína durante o período pré-natal e 28 RNs não expostos nascidos no mesmo hospital. Os RNs foram caracterizados como expostos por uma entrevista materna positiva para o uso de cocaína ou pelo exame meconial positivo. Após a comparação de expostos e não expostos, os RNs foram divididos conforme a duração da exposição à cocaína durante a gestação em 3 grupos para análise dos dados: grupo 1 - RNs não expostos (n = 28); grupo 2 - RNs expostos durante parte da gestação (n = 27) e grupo 3 - RNs expostos durante toda a gestação (n = 7). Entre 24 e 48 horas de vida, a Neonatal Intensive Care Unit Network Neurobehavioral Scale (NNNS) foi aplicada por um examinador cego para a situação de exposição.Os escores da escala foram comparados entre os grupos. Resultados: As características demográficas maternas, as características obstétricas e as neonatais não diferiram entre os grupos expostos ou não expostos. O uso de cocaína durante a gestação esteve associado ao de cigarros, e o uso durante toda a gestação, ao uso de cigarros e de outras substâncias (álcool e maconha). As usuárias de cocaína durante toda a gestação apresentaram taxas de complicações na gestação e de hospitalizações significativamente maiores do que as usuárias durante parte da gestação ou do que as não usuárias. Peso, comprimento e perímetro cefálico dos RNs do grupo 3 foram significativamente menores que os dos grupos 1 e 2. OsRNs do grupo 3 foram menos amamentados ao seio de forma exclusiva do que os demais e apresentaram maiores taxas de internação em unidade de terapia intensiva neonatal e maior tempo de hospitalização do que os do grupo 2. Quanto ao exame neurocomportamental, RNs expostos apresentaram mais sinais de estresse ou de abstinência no sistema nervoso autônomo do que os não expostos. Não foram encontradas outras diferenças nos escores da NNNS quando comparados expostos e não expostos. Os RNs expostos durante toda a gestação apresentaram piores escores na auto-regulação, na qualidade dos movimentos e no item hipotonia. Foram observados mais sinais de estresse autonômicos nos RNs do grupo 3 em relação aos demais.Conclusões: O estudo não detectou diferenças entre usuárias e não usuárias de cocaína quanto às características obstétricas e neonatais. No entanto, o consumo de cocaína durante toda a gestação ocasionou aumento de complicações obstétricas, diminuição do crescimento fetal e maiores taxas de internação hospitalar durante a gestação e no período neonatal. Esta pesquisa demonstrou os efeitos neurocomportamentais precoces numa amostra de RNs expostos à cocaína no período fetal, confirmando dados de estudos anteriores. O consumo de cocaína esteve associado ao de outras drogas pela gestante, o que pode ter influenciado os resultados. No Brasil, são necessários novos estudos, envolvendo vários centros e amostras maiores, para avaliar a associação entre o uso de cocaína na gestação e suas conseqüências obstétricas e neonatais, incluindo os efeitos neurocomportamentais no RN, assim como o impacto socioeconômico do uso desta droga durante a gestação.

ASSUNTO(S)

transtornos relacionados ao uso de cocaína recém-nascido síndrome de abstinencia neonatal manifestações neurocomportamentais

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