Experiências de vida de pacientes esquizofrênicos e seus familiares: uma perspectiva cultural da doença. / Life experiences of schizophrenic patients and their family: a cultural perspective of the disease.

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

A esquizofrenia é um dos principais transtornos psiquiátricos, cujas causas são ainda amplamente desconhecidas. O objetivo deste estudo é descrever as concepções socioculturais relacionadas à experiência subjetiva de pacientes esquizofrênicos e seus familiares, nos seguintes aspectos: a) estudar modelos explicativos e significados formulados por pacientes, familiares e comunidade para entender a esquizofrenia; b) descrever comportamentos e práticas populares de familiares utilizadas no processo do cuidado do paciente esquizofrênico; c) explorar a interação entre a família, o paciente esquizofrênico e a comunidade próxima. Foi realizada uma etnografia utilizando a observação participante e entrevista semiestruturada em profundidade, abordando questões referentes às experiências e crenças de pacientes crônicos com diagnóstico de esquizofrenia e seus familiares, em tratamento no Ambulatório de Saúde Mental da cidade de Montes Claros. Foram entrevistados 46 indivíduos: 16 pacientes, 23 familiares e 07 membros da comunidade. Familiares e pacientes vivem em precárias condições socioeconômicas. Pacientes, familiares e a comunidade compartilham crenças semelhantes quanto à etiologia e curso da doença. A esquizofrenia, para pacientes e familiares, não é reconhecida como uma doença; ela é um transtorno de causa espiritual e tem como principais modelos explicativos o resguardo quebrado, os espíritos, o encosto e os feitiços. Os espíritos geracionais são vistos como responsáveis pela transmissão e manifestação da doença por hereditariedade. A doença passa de um membro para o outro por maldição. Pacientes e familiares buscam ajuda terapêutica, principalmente nos curandeiros, no espiritismo e nas igrejas evangélicas, o que nem sempre resulta em melhora. As vozes que os pacientes ouvem são interpretadas pelos familiares como vozes espirituais, possibilitando a perspectiva de um aspecto positivo na relação entre familiares e pacientes. A loucura, para pacientes, familiares e comunidade, está associada à inconsciência dos acontecimentos e atitudes em torno de si. Ser louco está relacionado ao uso de medicação antipsicótica, o que é uma barreira para a adesão ao tratamento. Não poder participar socialmente do mundo é uma fonte de sofrimento para os pacientes. O relacionamento familiar é permeado de agressividade e violência de ambos os lados. As famílias usam a violência: a) por medo; b) como defesa das agressões recebidas; c) para controle do comportamento do paciente; d) por acreditarem que as agressões dos pacientes são premeditadas; e) por não compreenderem o que acontece com os pacientes. O comportamento violento do paciente é visto como um problema de caráter moral. Na perspectiva da comunidade, o paciente esquizofrênico é perigoso e ameaçador. O contexto sociocultural deve ser considerado ao se pensar políticas de intervenção que priorizem a melhoria de vida para pacientes e familiares. As políticas públicas de saúde mental precisam lidar com os desafios das realidades locais, da dinâmica familiar e da violência, que estão inseridos no contexto do cuidado terapêutico. A etnografia realizada com pacientes, familiares e vizinhos mostrou a complexidade do cuidado do paciente esquizofrênico e necessária articulação de várias áreas do conhecimento para se ter uma aproximação mais realista da vida cotidiana dos participantes.

ASSUNTO(S)

1. esquizofrenia. 2. etnografia. 3. experiencia subjetiva. 4. praticas populares. psiquiatria schizophrenia, ethnography, subjective experience, popular practices.

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