Etnobotânica quantitativa de plantas do Cerrado e extrativismo de Mangaba (Hancornia speciosa Gomes) no norte de Minas Gerais : implicações para o manejo sustentável

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

Com o objetivo de identificar o potencial da vegetação para o extrativismo, o conhecimento sobre uso de recursos vegetais nativos pela comunidade local e estimar a taxa máxima de coleta sustentável dos frutos de mangaba (Hancornia speciosa Gomes, Apocynaceae), foi realizado um estudo em uma área de cerrado remanescente na comunidade Água Boa 2, município de Rio Pardo de Minas, Norte de Minas Gerais. Na primeira parte do estudo, foi feito um levantamento fitossociológico e conduzidas entrevistas estruturadas com uma listagem livre sobre as dez plantas frutíferas e as dez madeireiras nativas mais usadas, seus principais locais de coleta e formas de uso, relacionando as informações com as categorias de gênero e idade. Na segunda parte, foi avaliada a estrutura e a dinâmica populacional, a produtividade e a germinação de H. speciosa, cujos frutos são explorados e comercializados. Também foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com os extrativistas para caracterização da coleta de mangaba e da sua contribuição na renda familiar. No total, foram amostrados 673 indivíduos arbóreos, distribuídos em 22 famílias, 35 gêneros e 48 espécies em um hectare. A área basal total foi de 9,36 m2/ha e a densidade foi de 476 ind/ha. O índice de Shannon foi de 3,11 nats/ind, com equitabilidade de 0,8. Mangaba (H. speciosa), pequi (Caryocar brasiliense), rufão (Peritassa campestris), veludo (Sclerolobium paniculatum), sucupira (Bowdichia virgilioides) e jataipeba (Pterodon emarginatus) foram as espécies mais citadas e de maior Valor de Uso e Valor de Importância da Espécie. Os homens citaram mais espécies madeireiras que as mulheres e não foram encontradas diferenças significativas relacionadas à idade. Foram amostrados 390 indivíduos de mangaba, sendo 71,3 juvenis/ha, 15,0 reprodutivos jovens/ha e 6,7 reprodutivos maduros/ha. O Incremento Diamétrico Anual dos juvenis foi 0,25 cm; dos reprodutivos jovens foi 0,82 cm e dos reprodutivos maduros foi 0,42 cm. A taxa de mortalidade e de natalidade anual de juvenis foi de 2,8% e 10,6%, respectivamente. Nenhum indivíduo reprodutivo morreu durante o período de um ano. A germinação em viveiro (89,0%) foi maior que no campo (11,2%), e as plântulas do viveiro apresentaram crescimento maior que as do campo. Indivíduos adultos de mangaba produzem em média 80,1 frutos e cada fruto possui em média 5,2 sementes. A taxa de crescimento populacional (λ) foi de 1,18, e a taxa máxima de coleta sustentável é de 96%. Cada extrativista obtém uma renda média anual de R$ 15,00 a 30,00 por dois dias de coleta de frutos. O extrativismo, como praticado atualmente, aparentemente não está afetando a regeneração da espécie e os níveis atuais de coleta não representam ameaças à persistência da população em longo prazo.

ASSUNTO(S)

ecologia manejo sustentável produto florestal não-madeireiro etnoecologia ethnoecology non-timber forest products sustainable management

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