ETNOBOTÂNICA DE QUINTAIS EM TRÊS COMUNIDADES RIBEIRINHAS NA AMAZÔNIA CENTRAL, MANAUS AM

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

Na Amazônia existem diversos sistemas de produção e de uso da terra que foram desenvolvidos ao longo de muitos anos por comunidades indígenas e caboclas, principalmente para fins de subsistência. Os quintais representam um destes sistemas e constituem-se de unidades produtivas onde árvores, arbustos e ervas são cultivados próximos às residências. Além de ser importante reserva de plantas úteis, os quintais também podem revelar muitos aspectos da história cultural local, sendo uma excelente fonte de informações etnobotânicas. O objetivo deste estudo foi caracterizar, sob o enfoque etnobotânico, os quintais das comunidades Agrovila e Julião, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Tupé e os quintais da comunidade Caioé, no Parque Estadual do Rio Negro (Setor Sul) Amazônia Central, Manaus (AM), quanto à composição e as formas de uso das espécies vegetais úteis. Foram selecionados de forma aleatória 54 quintais nas três comunidades e realizaram-se entrevistas semi-estruturadas e turnês-guiadas junto aos moradores para o levantamento das informações sócio-econômicas, sobre as espécies vegetais úteis e para coleta de material botânico. As espécies foram agrupadas em categorias de uso, conforme relato dos informantes, e foram calculados os índices de diversidade de Shannon-Wiener, de similaridade de Jaccard, de valor de uso da espécie (VU) e concordância quanto ao uso principal (CUP). Foram registradas 266 espécies vegetais consideradas úteis pelos moradores, pertencentes a 77 famílias botânicas. As famílias que mais se destacaram em número de espécies foram: Araceae, com 14, Arecaceae, com 13, Asteraceae, com 12, Malvaceae com 10 e Lamiaceae com nove espécies. Deste total 45% são utilizadas na alimentação, 35% na medicina popular e 33% como ornamentais. Há um predomínio de espécies frutíferas entre as alimentícias, representando 63,3% do total de espécies nesta categoria de uso. O predomínio de espécies utilizadas na alimentação ressalta a importância dos quintais na segurança alimentar dos comunitários da área estudada. Foi calculado o valor de uso (VU), obtendo-se como espécies mais utilizadas, conseqüentemente as mais importantes, Mangifera indica L. (Anacardiaceae), Anacardium occidentale L. (Anacardiaceae) e Persea americana Mill. (Lauraceae). Entre as espécies utilizadas na medicina popular, os maiores índices de VU são Carapa guianensis Aubl. (Meliaceae), Arrabidaea chica (Humb. &Bonpl.) B. Verl. (Bignoniaceae) e Mangifera indica L. (Anacardiaceae). O cálculo da CUP mostrou haver consenso no uso de Mangifera indica L. (Anacardiaceae) 84,9%, Inga edulis Mart. (Fabacaeae Mimosoideae) 83,9% e Persea americana Mill. (Lauraceae) 75,8% na alimentação, enquanto o mesmo cálculo para as espécies medicinais apontou concordância de uso para Lippia alba (Mill.) N.E. Br.(Verbenaceae), com 84,6% e Cymbopogon citratus (DC.) Stapf (Poaceae), com 48,6%, como calmante e a espécie Persea americana Mill. (Lauraceae), com 44,2% de concordância no uso contra anemia. Com relação aos aspectos sócio-econômicos, a população entrevistada constou de 46 mulheres (85,2%) e oito homens (14,8%), apresentando idade entre 15 e 68 anos, sendo que 62,9% (34) têm menos que 50 anos. A grande maioria é do estado do Amazonas (81,5%), com baixo nível de escolaridade, sendo que 74% nunca estudaram ou não finalizou o ensino fundamental. O conhecimento sobre as plantas e seus usos é transmitido em 65% das vezes de pai para filho, ou de avós para netos de forma oral e 67% dos entrevistados relatam estar mantendo esta forma de transmissão aos seus filhos. Na percepção de 57,4% dos entrevistados, o quintal é o que sobrou depois da construção da casa e que se encontra no entorno desta (lados, fundos e frente) e são considerados importantes por fornecerem alimentos, sombra, área de descanso e lazer.

ASSUNTO(S)

etnobotânica plantas úteis amazônia comunidades ribeirinhas botanica

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