Estudos comportamentais de Paryphthimoides phronius (Lepidoptera: Satyrinae)

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2005

RESUMO

A evolução dos sistemas de acasalamento é uma área do comportamento animal intensamente estudada. Existe uma série de hipóteses que buscam estabelecer uma relação causal entre os diferentes sistemas de acasalamento e fatores ambientais que favorecem a sua origem e manutenção. Por exemplo, em espécies que naturalmente ocorrem em baixas densidades, os machos podem agregar em sítios específicos onde as chances de encontrar fêmeas são maiores. Em algumas situações, os machos podem defender territórios contra rivais para aumentar ainda mais a probabilidade de acasalamento. Algumas espécies de borboletas são fortemente territoriais e constituem bons modelos para o entendimento de como os fatores ambientais podem moldar os sistemas de acasalamento. Várias espécies temperadas da subfamília Satyrinae foram estudas, entretanto, trabalhos utilizando espécies tropicais são raros. Neste estudo, descrevi e testei algumas hipóteses acerca da origem, manutenção e organização dos sistemas de acasalamento em duas espécies desta subfamília: Paryphthimoides phronius e Hermeuptychia hermes. Em especial, demonstrei pela primeira vez que massa corporal é um importante fator relacionado com o sucesso territorial em uma borboleta e que esta característica prediz o sucesso territorial com maior precisão que o comprimento da asa. Também encontrei evidências de que frutas em decomposição podem ser importantes para o estabelecimento dos machos nos territórios. O trabalho foi organizado em três partes principais: 1) Identificação dos fatores climáticos que influenciam o padrão comportamental e a abundância durante o dia nas estações seca e chuvosa; 2) Descrição da organização do sistema de acasalamento e de sua variação anual com ênfase nas táticas dos machos de sua distribuição nos territórios; 3) Análise da natureza das interações entre machos, e de características fenotípicas que influenciem na probabilidade de vitória durante os confrontos. A defesa de território foi observada apenas P. phronius. A taxa de reavistamento de machos marcados foi de 34,9%, havendo indivíduos que apresentaram alta fidelidade nas áreas defendidas (variação menor que 9 metros entre os reavistamentos). Machos de P. phronius normalmente se estabelecem em manchas de sol no final da manhã, permanecendo nestas áreas até o entardecer. Esta espécie apresentou pico de abundância próximo ao meio dia, aumentando o número de indivíduos com a elevação da temperatura. Este resultado provavelmente está relacionado com a concentração de machos na borda da mata para defesa de territorial. O início da defesa coincidiu com o horário de nascimento das fêmeas, no entanto, fêmeas recém nascidas aparentemente não estão sexualmente receptivas. As áreas defendidas não estavam associadas com plantas hospedeiras, nem árvores em ambos os lados da estrada que possam favorecer a formação de manchas de sol. Hermeuptychia hermes apresentou baixa taxa de recaptura e ausência de defesa territorial. O padrão diário desta espécie foi caracterizado por um pico de abundância no início do dia e outro menor ao entardecer. Houve uma relação negativa entre abundância e temperatura apenas na estação chuvosa. Talvez H. hermes diminua a atividade nos horários mais quentes ou se desloque para o interior da mata. A ausência desta relação na estação seca pode ter sido causada por uma perda mais acentuada de calor que tenha impedido alterações comportamentais quando as temperaturas estavam maiores.Machos de P. phronius apresentam distribuição agregada ao longo dos trechos de estudo. Algumas parcelas foram recorrentemente ocupadas durante o ano, enquanto outras foram ocupadas somente nos períodos de alta densidade. Possivelmente os locais com freqüente ocupação de machos são mais valiosos para defesa. Por esta razão, estas áreas deveriam ser defendidas por machos com maior capacidade competitiva. Entretanto, não existiram diferenças nas características fenotípicas dos indivíduos que ocuparam estes segmentos e machos presentes em outros pontos. Observações preliminares sugerem que o estabelecimento de alguns machos está relacionado com a distribuição de frutas em decomposição. Para testar esta possibilidade frutas em decomposição foram colocadas em áreas em que estes insetos não ocorriam previamente. Este procedimento atraiu de 2 a 3 machos que se estabeleceram apenas nos sítios com manchas de sol. Os experimentos de remoção mostraram que os machos residentes foram, em média, 1,7 mg mais pesados que machos que os substituíram nos territórios, sugerindo que o aumento da massa corporal contribui para o sucesso territorial. Machos com maior comprimento de asa foram mais pesados com 25% da variação do peso sendo explicada pelo comprimento alar. Entretanto, a posse do território não estava associada com o comprimento das asas ou com seu desgaste (idade). Isto sugere que massa corporal está mais fortemente associada a fatores biológicos que determinam o RHP e que, medidas de comprimento de asa podem ser ineficientes como uma estimativa de tamanho, mesmo que o tamanho seja importante para a determinação do vencedor. Observações de disputas sugerem que machos mais pesados e com maior comprimento de asa não vencem mais disputas contra rivais mais leves e com menor comprimento alar. No entanto, o número de observações foi baixo. Machos com maior desgaste das asas (presumivelmente mais velhos) não foram mais leves que machos jovens. Indivíduos recapturados e pesados mais de uma vez mostraram uma tendência de redução do peso quando as recapturas tiveram um intervalo maior que três dias. As informações obtidas para P. phronius apresentaram algumas diferenças dos padrões observados em borboletas. A partir destes resultados sugiro algumas hipóteses e estudos posteriores para melhor esclarecer os mecanismos subjacentes aos comportamentos observados nesta espécie

ASSUNTO(S)

territorialidade (zoologia) animais - comportamento corpo - tamanho

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