Estudo etnobotânico de plantas medicinais em comunidades de várzea do Rio Solimões, Amazonas e aspectos farmacognósticos de Justicia pectoralis Jacq. forma mutuquinha (Acanthaceae)

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

04/05/2010

RESUMO

O uso de plantas medicinais, associado às práticas e concepções simbólicas que o permeiam tem sido mundialmente valorizado. Os habitantes da várzea amazônica possuem importantes acervos de plantas utilizadas com fins terapêuticos. Este trabalho teve como objetivo realizar um estudo etnobotânico sobre as plantas medicinais utilizadas em comunidades ribeirinhas no rio Solimões, em duas localidades do município de Manacapuru/AM e contribuir com a caracterização farmacognóstica de uma das espécies de maior consenso de uso nas comunidades, Justicia pectoralis forma mutuquinha (Acanthaceae) (mutuquinha). No estudo etnobotânico, os informantes foram selecionados através da técnica ―Bola de neve‖. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas e observação participante. Foi calculada a concordância de uso principal (CUP) e foram construídas curvas de acumulação de citações para comparação do número de espécies medicinais e categorias nosológicas citadas em cada localidade. Foi realizada a caracterização anatômica e histoquímica das folhas e caules de J. pectoralis forma mutuquinha, segundo metodologias usuais de laboratório. Os informantes são em sua maioria mulheres idosas. Foram repertoriadas nas comunidades 157 espécies medicinais identificadas, distribuídas em 59 famílias, além de 19 espécies ainda não identificadas, sendo as famílias mais representadas Lamiaceae, Asteraceae, Fabaceae e Euphorbiaceae. 40% das espécies são exóticas, caracterizando uma farmacopeia dinâmica. A concepção nosológica local é peculiar, com doenças ―culturais‖ típicas. A classificação humoral e a teoria das assinaturas estão presentes nas concepções dos ribeirinhos. A saúde da mulher e de recém nascidos têm destaque no sistema médico local. A maioria das plantas medicinais usadas é herbácea, o que corrobora a ideia da importância de plantas ―daninhas‖ em farmacopeias populares, e encontrada nos quintais, o que reflete a importância da domesticação das plantas apropriadas com fins terapêuticos. Plantas alimentícias têm grande representatividade nas farmacopeias das comunidades estudadas. Zingiber officinale Roscoe (Zingiberaceae) e Mentha cf. piperita L. (Lamiaceae) são plantas com CUP elevada em ambas as localidades. As folhas são as partes vegetais mais usadas na preparação dos remédios, sendo a decocção o método mais comum. As inundações periódicas características da várzea amazônica ditam o ritmo de cultivo e disponibilidade de remédios caseiros. A chegada de novas crenças religiosas nas comunidades tradicionalmente católicas parece ser um fator de influência no acervo de categorias nosológicas locais e no número de espécies medicinais utilizadas. As folhas de J. pectoralis forma mutuquinha apresentam epiderme unisseriada, mesofilo dorsiventral, são hipoestomáticas com estômatos diacíticos. Hidatódios foram descritos na base da lâmina foliar. O pecíolo é côncavo-convexo com feixe central colateral em forma de arco. O caule tem organização eustélica típica de eudicotiledôneas, com feixes colaterais. Tricomas tectores, tricomas secretores e litocistos contendo cistólitos ocorrem na epiderme de todos os órgãos analisados. Gotas translúcidas ocorrem em abundância nas células do parênquima clorofiliano das folhas e caules. O conteúdo dos tricomas secretores é misto, complexo e diverso, incluindo óleos essenciais, esteroides, compostos fenólicos e proteínas, e as gotas do parênquima clorofiliano contêm oleorresinas. Tais resultados indicam o grande potencial terapêutico da espécie.

ASSUNTO(S)

plantas medicinais amazônia farmacognosia etnobotânica justicia pectoralis histoquímica botanica

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