Estudo de algumas atividades biológicas do extrato de cerdas da lagarta Lonomia obliqua Walker, 1855 (Lepidóptera, Saturniidae) preparado após diferentes períodos de armazenamento das cerdas / Study of some biological activities of extract prepared from fresh and frozen Lonomia obliqua caterpillar bristles

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2006

RESUMO

A síndrome hemorrágica induzida por contato com as cerdas da lagarta do gênero Lonomia pode causar distúrbios hemostáticos, com consumo de alguns fatores de coagulação. Os primeiros acidentes com Lonomia foram descritos na Venezuela, em 1967; no Norte do Brasil, foram relatados alguns casos no início da década de 1980. A partir de 1989, na região Sul do Brasil, principalmente na zona rural de Passo Fundo (RS) e Chapecó (SC), surgiram vários casos de acidentes por contato com essas lagartas. Atualmente estes acidentes continuam ocorrendo com maior freqüência nesta região, com algumas notificações esporádicas em outras partes do Brasil, principalmente na região Central. Inicialmente os casos graves de acidentes com lagartas Lonomia foram tratados com antifibrinolíticos e infusão de glóbulos vermelhos, principalmente na Venezuela e no Brasil. Em 1994, um antiveneno específico que neutraliza os efeitos biológicos dos extratos das cerdas foi produzido no Instituto Butantan. Desde então, o tratamento para estes envenenamentos tem sido a soroterapia com antiveneno produzido com extrato das cerdas das lagartas originárias da região de maior ocorrência de acidentes. O objetivo deste estudo foi avaliar a estabilidade de algumas atividades do extrato preparado com as cerdas frescas, sem congelar (0) e com as cerdas congeladas e armazenadas por 2, 4 e 6 meses a -20ºC. Todas as cerdas utilizadas foram de lagartas no 5º e 6º instar. Assim, para esta finalidade, foram preparados três lotes (A, B e C) de extrato de cerdas de taturanas provenientes da região de Passo Fundo (RS). Para cada lote foram separadas 4 amostras de cerdas que foram processadas sem congelar (0), e congeladas por 2, 4 e 6 meses. Observamos que a atividade coagulante dos extratos dos lotes A e C foram reduzidas nas cerdas congeladas por 2 meses ou mais (p<0,05), mas a atividade do lote B reduziu apenas após 4 meses. Resultados semelhantes foram observados com a atividade fosfolipásica que reduziu nos extratos preparados com cerdas congeladas por 2 meses ou mais nos lotes A e C e após 4 meses ou mais no lote B (p<0,05). Entretanto, o armazenamento não afetou a atividade hemolítica indireta ou a imunogenicidade em nenhum dos lotes. Por outro lado, a atividade hemolítica direta e atividade fibrinolítica não foram observadas em nenhum dos três lotes preparados. O perfil eletroforético dos extratos em SDS-PAGE, após diferentes períodos de congelamento, não mostraram alterações evidentes, mas a análise densitométrica das amostras indicaram degradação proteica além da desnaturação associadas com a redução da atividade biológica. Os nossos resultados indicam que o congelamento das cerdas por 2 meses ou mais reduzem a atividade pro-coagulante e fosfolipásica do extrato. Entretanto, os extratos preparados com as cerdas congeladas podem ser usados para produção de antiveneno visto que o congelamento das cerdas não afeta a qualidade do anticorpo produzido. Futuramente serão realizados testes de soro neutralização para verificar a eficácia desses anticorpos in vivo.

ASSUNTO(S)

lonomia obliqua armazenamento lonomia obliqua atividade biológica

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