Estudo das características de personalidade e fatores de vulnerabilidade em pacientes adultos com transtorno do pânico e de suas relações com a resposta ao tratamento e com o curso da doença

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

Introdução O Transtorno do Pânico (TP) é uma doença crônica e recorrente. A presença de Transtornos de Personalidade associada tem sido considerada um fator que pode contribuir na cronicidade e dificuldade em tratar alguns pacientes com TP. No entanto, a influência dos aspectos de personalidade no TP ainda não é clara, com estudos mostrando resultados controversos. Objetivos Avaliar os traços de personalidade de pacientes com TP, antes e depois de tratamento medicamentoso, comparados a um grupo controle, determinando suas implicações no tratamento agudo e em um seguimento naturalístico de 2 anos, bem como as de outros possíveis preditores de resposta (como estilo defensivo e história de trauma). Métodos Foi realizado um estudo longitudinal que consistiu de 2 fases, com uma amostra de pacientes com diagnóstico de TP, segundo o DSM-IV, provenientes do Programa de Transtornos de Ansiedade (PROTAN), do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, ou selecionados diretamente para a pesquisa. Na primeira fase, 47 XIII pacientes foram incluídos em um ensaio aberto com sertralina por um período de 16 semanas. Os pacientes foram avaliados por meio do MINI (Mini International Neuropsychiatric Interview – DSM IV), do CGI (Clinical Global Impression), do Inventário do Pânico e da Escala Hamilton-Ansiedade. O critério de remissão foi: CGI≤2 e ausência de ataques de pânico. O MMPI (Inventário Multifásico Minnesota de Personalidade) e o PDQ - IV (Personality Diagnostic Questionnaire – IV) foram utilizados para avaliação da personalidade. Nesta primeira fase, também foram incluídos 40 controles, que não preenchiam critérios diagnósticos para transtornos psiquiátricos de Eixo I. Na segunda fase, em um seguimento naturalístico, os pacientes foram reavaliados 2 anos após terem participado do período de intervenção, por meio do CGI, do Inventário do Pânico e da Escala Hamilton-Ansiedade. Nesta fase, também foi aplicado o TCI (Inventário de Temperamento e Caráter). Resultados Após o período de intervenção de 4 meses, 26 pacientes (65%) alcançaram remissão. Na linha de base, os escores de personalidade do MMPI foram significativamente mais altos nos pacientes comparados aos controles (p<0,001). Comparando os 26 pacientes em remissão aos controles, as escalas hipocondria, depressão, histeria e psicastenia permaneceram com escores significativamente mais altos nos pacientes (p<0,05), sugerindo que mesmo em sua fase assintomática, um padrão de personalidade da linha neurótica e ansiosa se mantém. As escalas do MMPI apresentaram mudança significativa, mas de pequena magnitude, ao final do tratamento, enquanto nenhuma escala do PDQ –mudou significativamente.Foram preditores de pior resposta ao tratamento farmacológico agudo: idade de início do TP; gravidade; defesas imaturas; as escalas de personalidade paranóia, psicastenia e esquizofrenia do MMPI; e as escalas paranóide e obsessivo-compulsiva do PDQ. Após uma análise controlada, idade de início, CGI e defesas imaturas mantiveram-se preditoras no tratamento agudo. Na avaliação de 2 anos, verificou-se que todas as escalas sintomáticas indicaram uma manutenção dos escores alcançados após o tratamento de 4 meses. No entanto, 37% dos pacientes não mostravam remissão e 74% permaneciam em tratamento. O uso de defesas neuróticas e as escalas de temperamento de busca de novidades e evitação ao dano associaram-se com pior resultado aos 2 anos, enquanto a escala de caráter autodirecionamento foi mais alta nos pacientes que estavam em remissão. Conclusões Os padrões mais característicos da personalidade no TP (ansioso e neurótico), mesmo que influenciados (exacerbados) por sintomas, são mantidos quando o paciente está assintomático e podem ser pesquisados. O TP apresentou uma boa resposta ao tratamento agudo. No entanto, mesmo com os ganhos mantidos, mostrou uma alta taxa de cronicidade no seguimento de 2 anos. Os fatores associados à remissão dos sintomas parecem ser diferentes em curto e longo prazos. No tratamento agudo, os preditores principais são os mais relacionados com o estado de ansiedade e o funcionamento imaturo. Por outro lado, no seguimento de longo prazo existe influência das características mais persistentes dos pacientes, como os aspectos de personalidade, medidos através do temperamento e caráter, e o funcionamento neurótico. A pesquisa aponta para a importância dos estudos de personalidade, temperamento e caráter, e do funcionamento defensivo no TP para que estratégias mais efetivas de tratamento sejam testadas, visando a trabalhar também com esses fatores.

ASSUNTO(S)

transtorno de pânico transtorno de personalidade múltipla personalidade adulto

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