Estudo da contratransferência e sua associação com características do paciente em psicoterapia de orientação analítica

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

Introdução: O conceito de contratransferência (CT) sofreu considerável evolução desde sua formulação inicial. Originalmente, a CT foi conceituada como um obstáculo ao tratamento devendo ser superado. Esta visão restrita se amplia, no decorrer dos últimos 100 anos, considerando as reações contratransferenciais uma criação conjunta entre analista e paciente, tornando-se, quando adequadamente utilizado, um valioso instrumento diagnóstico e terapêutico. Atualmente, a centralidade da CT na prática clínica é incontestável, correlacionando-se com a transferência, paralelamente, às vezes, induzindo-a e, para alguns, precedendo-a. De acordo com a literatura, reações contratransferenciais têm implicações no processo terapêutico e podem influenciar no desfecho do tratamento psicoterápico. Portanto, analisar empiricamente as associações entre sentimentos do terapeuta e fatores do paciente pode ampliar o conhecimento desta questão clínica e teórica extremamente relevante na psicanálise e na psicoterapia psicodinâmica contemporâneas. Método: Este estudo avaliou a CT e sua associação com características do paciente em psicoterapia de orientação analítica, delineamento transversal com amostra consecutiva, composta por 86 pares terapêuticos do Ambulatório de Psicoterapia de Orientação Analítica do Serviço de Psiquiatria do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Foram coletadas informações sociodemográficas, avaliação multiaxial e estilo defensivo dos pacientes. A Escala de Avaliação da Contratransferência (EACT), questionário autoaplicável que lista 23 sentimentos distribuídos nas dimensões de aproximação, afastamento e indiferença, foi utilizada para aferir a CT no início, meio e final da sessão. Resultados: Observou-se que gênero, renda, estado civil, Eixo IV e GAF da avaliação multiaxial correlacionaram-se com a CT. A associação entre padrões contratransferenciais e estas características pode refletir a influência do paciente na experiência subjetiva do terapeuta. Não se evidenciou, nesta amostra, correlação de sentimentos contratransferenciais com idade, escolaridade e estilo defensivo do paciente. Além disso, a presença de diagnóstico nos eixos I, II e III da avaliação multiaxial não se associou com a CT. Estes resultados, de acordo com estudos empíricos, podem sugerir a contribuição questionável dos transtornos psiquiátricos clínicos e dos transtornos de personalidade com sentimentos contratransferenciais específicos. Os resultados deste estudo mostraram um predomínio de sentimentos de aproximação, com aumento da intensidade no decorrer da sessão. Pode se inferir que houve diminuição da ansiedade inicial dos terapeutas, possibilitando maior contato emocional e ampliação da sua capacidade empática. Ou seja, evidenciou-se empiricamente que em cada sessão o terapeuta vive um processo de aproximação gradativa com o paciente. Conclusão: Há sentimentos contratransferenciais comuns associados a determinadas características dos pacientes em psicoterapia de orientação analítica. A CT do terapeuta constitui parte inevitável de cada encontro analítico. Através dos afetos contratransferenciais, o terapeuta percebe o que seu paciente sente, inferindo sua realidade psíquica. Portanto, o terapeuta utiliza a si próprio como instrumento de compreensão. Assim, a busca pelo terapeuta das fontes de seus sentimentos contratransferenciais possibilita o manejo adequado e efetivo da CT, promovendo o processo terapêutico. Este estudo possui limitações que comprometem a generalização dos resultados, sendo imperioso destacar a necessidade de pesquisas futuras através de estudos empíricos controlados para ampliar o conhecimento nesta área de grande relevância na prática de psicanalistas e psicoterapeutas.

ASSUNTO(S)

countertransference (psychology) contratransferência (psicologia) psicoterapia psychotherapy mecanismos de defesa defense mechanisms psychiatry diagnosis gender

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