Estudo da adesão à antibioticoterapia profilática em crianças portadoras de doença falciforme: estudo prospectivo no Hemocentro de Belo Horizonte (2005-2006)

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2006

RESUMO

Analisou-se a adesão à prescrição de antibiótico profilático, penicilina na maioria dos casos, em 108 crianças com anemia falciforme, seguidas por 15 meses no Hemocentro de Belo Horizonte, Brasil. Avaliou-se a adesão por meio de questionário aplicado aos cuidadores em três entrevistas e de dados retirados dos prontuários médicos das crianças; a ingestão de antibiótico foi verificada em 81 crianças por meio de teste de atividade antibacteriana em uma amostra de urina. A urina foi coletada pelas mães no domicílio, imersa em fita de papel-filtro e enviada pelos correios em envelope selado para os pesquisadores. Os antibióticos prescritos eram gratuitos para todos os pacientes. Os pais de 78% das crianças escolheram a via oral para administração do antibiótico; os outros penicilina intramuscular a cada 21 dias, exclusivamente ou alternadamente com a via oral. Os meninos representaram 45% da casuística. A idade mediana foi de 25,3 meses. As mães foram responsáveis pela administração do antibiótico oral na maioria dos casos. O antibiótico foi detectado na urina em 56% das crianças; 48% dos cuidadores afirmaram nas entrevistas que nenhuma dose do medicamento deixou de ser administrada. Em 89% das crianças não teriam ocorrido falhas na administração do antibiótico, de acordo com as anotação do prontuário médico. Considerando-se aderente a criança que não apresentasse falhas em nenhum ou em apenas um dos métodos utilizados, a taxa de adesão foi de 67%. O grau de concordância entre os três métodos para medir a adesão foi baixo. Cerca de 10% dos cuidadores relataram dificuldades para administrar o antibiótico oral. Quando os cuidadores foram questionados sobre o entendimento das orientações fornecidas pelos médicos assistentes, a maioria das respostas referiu-se ao conhecimento sobre a doença falciforme em si mais do que à importância do antibiótico profilático. Somente nove cuidadores relataram algum tipo de abordagem educacional feita pelo corpo de enfermagem. Não se demonstrou qualquer associação entre a taxa de adesão e o gênero, estado nutricional, renda familiar per capita, nível educacional dos cuidadores ou número de membros da família. A adesão é um tema complexo que não pode ser entendido apenas em termos de medidas diretas ou indiretas das taxas de adesão à prescrição médica. Devem ser devidamente levados em consideração o comportamento dos pacientes e de suas famílias em relação aos regimes prescritos, suas crenças e conhecimento sobre a doença em questão, sua vida cotidiana e os papéis sociais desempenhados pelos profissionais de saúde, pacientes e familiares no processo global de saúde-doença. Os resultados do presente estudo sugerem a necessidade de programas educacionais abrangentes para os profissionais de saúde, para as famílias e crianças portadoras de anemia falciforme.

ASSUNTO(S)

fatores socioeconômicos decs fatores culturais decs pré-escolar decs penicilinas/urina decs anemia falciforme/quimioterapia decs antibioticoprofilaxia decs lactente decs cooperação do paciente decs pediatria teses. anemia falciforme/prevenção &controle decs dissertação da faculdade de medicina da ufmg.

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