Estruturação de centro de transplante de microbiota fecal em hospital universitário no Brasil

AUTOR(ES)
FONTE

Arq. Gastroenterol.

DATA DE PUBLICAÇÃO

2020-12

RESUMO

RESUMO CONTEXTO: O Transplante de microbiota fecal (TMF) é uma importante opção terapêutica para a infecção recorrente ou refratária pelo Clostridioides difficile, sendo método seguro e eficaz. Resultados iniciais sugerem que o TMF também desempenha papel relevante em outras afecções cuja patogênese envolve a alteração da microbiota intestinal. No entanto, seu uso sistematizado é pouco difundido, especialmente no Brasil. Na última década, surgiram múltiplos relatos e séries de casos utilizando diferentes protocolos para o TMF, sem padronização de métodos e com taxas de resposta variáveis. No Brasil, poucos casos isolados de TMF foram relatados sem a implantação de um Centro de Transplante de Microbiota Fecal (CTMF). OBJETIVO: O principal objetivo deste estudo foi descrever o processo de implantação de um CTMF com banco de fezes, em hospital universitário brasileiro, para tratamento de infecção recorrente e refratária pelo C. difficile. MÉTODOS: O CTMF foi estruturado dentro dos critérios exigidos e aprovados por organismos internacionais como o Food and Drug Administration, Grupo Europeu de Transplante de Microbiota Fecal e em consonância com os aspectos epidemiológicos e regulatórios nacionais. RESULTADOS: Foi estabelecida toda uma plataforma envolvida na estruturação de um centro de transplante com fezes congeladas. Determinou-se os critérios para seleção de doadores, processamento e armazenamento de amostras, manejo dos receptores antes e após o procedimento, uniformização de vias de administração do substrato fecal e seguimento a curto e longo prazo dos pacientes transplantados. A seleção dos doadores foi conduzida em três etapas: pré-triagem, avaliação clínica e exames laboratoriais. Boa parte dos candidatos foram excluídos na primeira (75,4%) e segunda etapa (72,7%). Os principais critérios clínicos de exclusão foram: diarreia aguda recente, excesso de peso (IMC ≥25 kg/m2) e distúrbios gastrointestinais crônicos. Quatro dos 134 candidatos foram selecionados após a triagem completa, com taxa de detecção de doadores de 3%. CONCLUSÃO: A implantação de um CTMF, inédito no nosso meio, possibilita o acesso de pacientes com infecção recorrente e refratária pelo C. difficile a tratamento inovador, seguro, com elevada taxa de sucesso e pouco disponível no Brasil. A seleção apropriada de doadores qualificados é vital no processo de implantação de um CTMF. A avaliação clínica rigorosa dos doadores permitiu o uso racional de recursos para realização de exames laboratoriais. Um CTMF possibilita tratamento sob demanda, em maior escala, menos personalizados, com mais segurança e rastreabilidade. Este protocolo fornece subsídios para a realização de TMF em países emergentes.

Documentos Relacionados