Estratégia saúde da família e a notificação de maus-tratos contra crianças e adolescentes na região metropolitana de Fortaleza

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

No Brasil, assim como em outros países, em diferentes culturas e classes sociais, independentes de sexo ou etnia, crianças e adolescentes são vítimas cotidianas dos maustratos/violência. Este trabalho focaliza o processo de notificação de maus-tratos em crianças e adolescentes, e os seus propósitos convergiram para (i) a análise do processo de notificação de maus-tratos/violência em crianças e adolescentes na práxis de médicos, enfermeiros e cirurgiões-dentistas da Estratégia Saúde da Família (ESF) da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Incluíram-se ainda (ii) a identificação das características sociodemográficas, formação profissional e tempo de trabalho desses profissionais; (iii) a identificação dos motivos favoráveis, desfavoráveis e as dificuldades enfrentadas por esses profissionais à notificação dos maus-tratos e (iv) a associação das características sociodemográficas, formação profissional, tempo de trabalho, instrumentalização com o desfecho deparar-se e notificar esses casos de maus-tratos. Nesta investigação, utilizou-se o estudo de corte transversal, do tipo inquérito na atenção primária, com a participação de 248 profissionais (médicos, enfermeiros e cirurgiões-dentistas) da ESF de 12 municípios da RMF, em 2009-2010. Um questionário estruturado contemplando as variáveis sociodemográficas, formação profissional, tempo de trabalho na Saúde da Família, a instrumentalização do profissional sobre o tema, as barreiras enfrentadas pelo profissional na notificação e como o profissional se posiciona diante desses casos originaram a produção dos achados. Aplicaram-se o teste de correlação de Pearson (p<0,05), análise descritiva e medidas de tendência central no tratamento estatístico dos dados, e sua discussão fundamentou-se na literatura que subsume o objeto de estudo. Na caracterização dos participantes, os achados evidenciaram predomínio do sexo feminino (71,8%), idade média de 33 anos e desvio padrão DP de 9,39, graduados a menos de cinco anos (47,2%), igual tempo de trabalho na ESF (53,2%) e com especialização em saúde coletiva e áreas afins (65,0%). Quanto à instrumentalização desses profissionais para o enfrentamento do problema, 74,5% nunca participaram de treinamentos sobre maus-tratos; 60,3% não conhecem a ficha de notificação, 38,2% não sabem se existe esta ficha em seu local de trabalho, mas 49,0% já se depararam com esses casos em sua prática. Revelaram-se estatisticamente significativos para deparar com casos de maus-tratos, tempo de formado (p=0,002) e tempo de trabalho na ESF, ambos menores que cinco anos (p=0,001) e, na notificação dos casos, apenas a categoria profissional (p=0,007) mostrou-se estatisticamente significativa. Em relação aos motivos favoráveis à notificação, prevaleceram os benefícios oriundos da notificação (76,1%), melhor acesso da comunidade ao serviço (32,7%) e importância para compor dados epidemiológicos (23,4%). Quanto aos desfavoráveis, encontrou-se a falta de estrutura da rede de apoio (81,8%) como mais respondido. As dificuldades apontadas pelos profissionais convergiram para a falta de estrutura da rede de apoio (36,1%), de conhecimento/capacitação dos profissionais (35,5%), de proteção ao profissional que notifica (35,0%) e o medo de envolvimento legal (10,3%). O estudo conclui que o perfil sociodemográfico desses profissionais é de jovens, solteiros, com predominância feminina, tempo de formados e de trabalho na ESF menor que cinco anos e pós-graduados em saúde coletiva e áreas afins. Quanto à notificação, apontaram lacunas na instrumentalização do conhecimento para o manejo e enfrentamento de maus-tratos no grupo estudado, refletindo nas tomadas de decisão diante dessas casuísticas.

ASSUNTO(S)

saÚde da famÍlia - dissertaÇÕes crianÇas - maus-tratos - dissertaÇÕes saude coletiva

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