Esquizofrenia e participação social: a percepção do portador em relação ao estigma e discriminação. / Schizophrenia and social participation: users perceptions regarding stigma and discrimination.

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

Diversos estudos evidenciam atitudes e comportamentos discriminatórios da população geral em relação aos portadores de esquizofrenia. Além disso, a discriminação antecipatória e o autoestigma levam portadores a se sentirem desvalorizados, tendo uma percepção negativa de si e de sua doença, culminando no aumento do isolamento e na diminuição da autoestima dos mesmos. Dessa forma, o estigma e a discriminação prejudicam a vida dos portadores e têm efeitos negativos em sua participação social. Objetivo: Examinar o fenômeno da discriminação, tanto experimentada quanto antecipatória/autoestigma, no cotidiano de portadores de esquizofrenia. Materiais e Métodos: O estudo foi realizado na cidade de São Paulo, junto ao Programa de Esquizofrenia (PROESQ) da Universidade Federal de São Paulo e ao Serviço de Orientação à Esquizofrenia (S.O.eSq.) da Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Esquizofrenia (ABRE) e contou com a participação de 50 portadores de esquizofrenia. Estudo de corte transversal, em amostra de conveniência, utilizandose da aplicação, por um entrevistador, do questionário semiestruturado Discrimination and Stigma Scale DISC 10 desenvolvido por Thornicroft et al. (2009), traduzido e adaptado à língua portuguesa e à realidade sócio-cultural brasileira. Os escores para a análise das respostas do questionário foram divididos segundo as categorias da vivência de discriminação experimentada percebida como desvantajosa, indiferente e vantajosa, e da presença ou ausência de vivência de discriminação antecipatória/autoestigma. Resultados: Portadores de esquizofrenia perceberam suas vivências de discriminação experimentada como indiferente mais do que como desvantajosas ou vantajosas. Atitudes discriminatórias negativas (desvantajosas) foram percebidas principalmente em decorrência de terem o diagnóstico de esquizofrenia, na relação com seus familiares e ao fazerem ou manterem amigos. Experiências de discriminação positiva (vantajosas) foram raras. Portadores de esquizofrenia internados involuntariamente perceberam suas vivências de discriminação experimentada como desvantajosas na maioria das situações. Com relação à discriminação antecipatória/autoestigma, as situações nas quais portadores relataram sua presença foram: quando sentiram necessidade de ocultar o diagnóstico de doença mental, ao desistirem de concorrer ou de se candidatar a um trabalho, estágio ou estudo, ao desistirem de buscar um relacionamento ou de continuar uma relação íntima e ao deixarem de fazer algo importante para si devido ao diagnóstico de doença mental. Portadores internados involuntariamente sentiram-se mais desrespeitados, humilhados ou punidos no contato com profissionais de saúde mental e não sentiram negados, em nada, os benefícios sociais ou de seguridade social aos quais têm direito. E ainda, portadores que se sentiram desrespeitados, humilhados ou punidos no contato com profissionais de saúde mental apresentaram mais vivências de discriminação como desvantajosas. Verificou-se uma associação positiva entre a presença de discriminação antecipatória/autoestigma e a vivência de discriminação experimentada percebida como desvantajosa. O fato de o indivíduo ter sido internado involuntariamente aumenta em quase sete vezes a chance da discriminação experimentada por ele ser vivenciada como desvantajosa. Conclusões: Verificamos que portadores percebem atitudes estigmatizantes e discriminatórias em diversos domínios da vida e vivenciam autoestigma, tendo, tais vivências, um impacto negativo em suas oportunidades de participação social. O presente estudo contribui para afirmar a importância da visão do portador de transtorno mental no planejamento de ações para lidar com tais questões, tendo-o como protagonista nesse processo. xi

ASSUNTO(S)

esquizofrenia participação / inclusão social estigma discriminação psiquiatria

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