Espações residuais: análise dos desejos como elementos comunicacionais

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2007

RESUMO

Os conceitos de espaço residual e terrain vague são apontados por estudos sociológicos, urbanísticos e antropológicos como elementos importantes no cenário urbano, necessários para um fazer criativo, um intervalo no sistema oficial da cidade. Esta conformação residual é tanto material quanto semiótica (ou informacional) e existe em relação direta com o sistema codificado que busca seu controle; quanto maior a racionalização ou quanto mais impositiva for esta ação, maior o número de resíduos criados, maior a entropia. Desta forma, a noção de resíduo pode ser utilizada não apenas como adjetivo da constituição do lugar geográfico, mas também como conceito de comunicação, que contempla a possibilidade de novas configurações a partir de fragmentos de textos aparentemente distantes. O presente estudo tem como objetivo compreender os modos de geração e apropriação dos resíduos nos espaços urbanos por meio das relações entre sistemas de linguagens, isto é, entendidos como elementos comunicacionais. O estudo tem como base a abordagem da Semiótica da Cultura, mais especificamente o conceito de Semiosfera proposto por Iuri Lotman, por meio do qual se pode perceber que quanto maior a capacidade de um sistema de gerar e se apropriar dos resíduos comunicacionais, maior riqueza e complexidade se obtém. A partir deste conceito inicial foi estabelecida uma proposta metodológica comparativa com estudos de autores que analisam as relações comunicacionais no espaço urbano em um contexto brasileiro, como Lucrécia Ferrara, Amálio Pinheiro e Nelson Brissac. Para o principal corpus de análise foi escolhida a cidade de São Paulo, por sua relevância como metrópole latino-americana e ao mesmo tempo por possuir elementos que permitem que se ampliem as conclusões obtidas para a compreensão dos espaços residuais em outras grandes cidades. Para o estudo de como opera a construção semiótica do espaço físico de controle foram analisados 100 anúncios de publicidade imobiliária da cidade de São Paulo durante o ano de 2004. Para o estudo específico dos espaços residuais foi realizado um estudo de campo em comunidades presentes em duas áreas da cidade de São Paulo e analisadas as alterações que sofreram durante os anos de 2004 a 2006. A partir das análises realizadas foi possível compreender que os resíduos, por não pertencerem mais a nenhum sistema organizado, são elementos instáveis, movediços. Oferecem uma situação de potencialidade e instabilidade, mas também de disponibilidade. Os distintos modos de se apropriar da informação, dos espaços e objetos residuais na cidade demandam uma intensa capacidade de adaptação e de criação de novos sistemas de linguagem que são muitas vezes ignorados em estudos que priorizam o contexto de fragilidade econômica e exclusão social onde estão inseridos

ASSUNTO(S)

espaço residual comunicacao residuos espaços publicos arquitetura cidades e vilas comunicacao terrain vague semiotica

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