Escolhas Sistêmicas de Transitividade e de Léxico na Representação de Escândalos Políticos: A Construção de Realidades de Crise e de Corrupção

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2011

RESUMO

O presente estudo investiga o modo como a revista VEJA constroi, nas escolhas sistêmicas de transitividade e de léxico, sistemas de conhecimento e significado para três escândalos políticos, quais sejam: o escândalo do mensalão, do dossiê e dos cartões corporativos, representados por meio de reportagens. O ponto central é examinar, nessas escolhas sistêmicas, como jornalistas constroem realidades de crise e de corrupção para os escândalos. Para tanto, utilizamos o Sistema de Transitividade (HALLIDAY e MATTHIESSEN, 2004) e as escolhas de nomeação realizadas por jornalistas, para interpretarmos as realidades dos escândalos a partir da relação entre processos, seus participantes e elementos circunstanciais. Essa proposta de pesquisa se justifica, dentro da Linguística, enquanto uma possibilidade de se analisar escândalos políticos como discursos, isto é, como modos particulares de representar, por meio da linguagem, aspectos do mundo. Devido ao papel crucial da mídia na representação desses fenômenos, estamos considerando que escândalos políticos não são constituídos apenas por atos de transgressão, mas, também, por discursos. A revelação, a avaliação e a condenação de escândalos na mídia não apenas descrevem um estado de coisas. Pelo contrário, elas são ações que parcialmente constituem esse estado de coisas, integrando às narrativas jornalísticas a própria existência do escândalo. Para tanto, esta pesquisa aborda a representação sob três aspectos: primeiro, toda oração serve para expressarmos nossas experiências de mundo ao nosso redor e dentro de nós (HALLIDAY e MATTHIESSEN, 2004); segundo, toda escolha de representação é tanto uma questão de vocabulário quanto uma questão de gramática (FAIRCLOUGH, 1995a); e terceiro, toda representação é uma atividade política que reflete as predileções daquele que a constroi (RAJAGOPALAN, 2003). A base teórico-metodológica é a Análise Crítica do Discurso, tal como entendida por Norman Fairclough, e a Linguística Sistêmico-Funcional, abordada nos estudos de Halliday (1978) e Halliday e Matthiessen (2004). Recorre-se ainda aos estudos do sociólogo John Thompson acerca da noção de escândalo político, no intuito de observar as características desse tipo de fenômeno, e a alguns princípios gerais da ação da mídia na vida social contemporânea. O corpus de análise é formado por seis reportagens extraídas da revista VEJA. Foram selecionadas as duas primeiras reportagens veiculadas sobre cada escândalo, visto que nessas duas primeiras edições os textos jornalísticos já preenchiam os elementos constituintes de um escândalo político (THOMPSON, 2002). Os resultados da análise apontam uma excessiva visibilidade das transgressões cometidas, bem como de seus autores. Ao apresentarem ações, atribuírem qualidades e classificações, relatarem ações enunciativas, expressarem experiências internas, representarem a existência de algo e expressarem comportamentos psicológicos e fisiológicos acerca dos escândalos, os jornalistas constroem realidades de mundo específicas para cada evento, potencializando suas irregularidades. Nesse processo discursivo, percebe-se como cada escolha é motivada pelos contextos de improbidade dos escândalos. Ao mesmo tempo, nota-se que o espaço discursivo dado à representação dos escândalos é preenchido por um discurso muito mais preocupado em criticar e condenar os acusados do que conscientizar seu público dos valores da política em uma sociedade democrática. Pode-se perceber ainda que são nas escolhas de nomeação que o discurso de VEJA imprime seu ponto de vista sobre os fatos, buscando influenciar a opinião pública contra as atividades irregulares cometidas nesses escândalos.

ASSUNTO(S)

veja (revista) teses. análise do discurso teses. semiótica aspectos sociais teses. funcionalismo (linguística) teses. simbolismo na comunicação teses. gramática comparada e geral transitividade teses. persuasão (retórica) teses. textos jornalísticos teses. mídia impressa teses.

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