Epidemiologia, clínica e evolução de recém-nascidos com sífilis congênita

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

28/03/2011

RESUMO

OBJETIVO: Estudar a epidemiologia, os aspectos clínicos e a evolução de crianças que tiveram diagnóstico de sífilis congênita e receberam tratamento no período neonatal, assim como daquelas cujas mães tiveram sífilis gestacional e foram tratadas durante a gestação. MÉTODOS: A amostra, de conveniência, foi composta por todos os recém-nascidos vivos cujas mães tinham sorologia positiva para sífilis na gestação e/ou no parto, nascidos no Hospital São Lucas da PUCRS (HSL) no período de maio de 1997 a dezembro de 2004. Adicionalmente, foram incluídos recém-nascidos com sífilis congênita provenientes de outros hospitais. No período do estudo, todos os pacientes foram encaminhados para acompanhamento de rotina no Ambulatório de Infecções Congênitas do HSL. Para avaliar a nutrição, calculamos a percentagem da mediana do peso final para cada paciente, tomando como referência os gráficos de peso sobre idade da Organização Mundial da Saúde. Os dados foram coletados prospectivamente, digitados e analisados no Epi Info, versão 3.4. Os resultados foram expressos em frequências percentuais e também foram utilizados os testes Qui-quadrado (ou exato de Fisher quando indicado) para associações e o Mann-Whitney/Wilcoxon para comparação entre médias. O nível de significância adotado foi P<0,05. RESULTADOS: No período do estudo ocorreram 24.920 partos de recém-nascidos vivos no HSL e 499 mães tiveram diagnóstico de sífilis. Em 120 casos as mães haviam recebido tratamento correto para sífilis antes do parto (grupo SM). No mesmo período, 379 nascidos vivos preencheram os critérios de definição de caso de sífilis congênita (grupo SC-HSL) A prevalência de sífilis congênita foi de 15,2 casos por 1000 nascidos vivos (IC 95% 14-17/1000). Mais 19 casos de recém-nascidos com sífilis, procedentes de outros hospitais, foram incluídos na amostra, somando 398 pacientes com sífilis congênita (grupo SC). Assim, a amostra total do estudo incluiu 518 pacientes. No grupo SC-HSL 5,0% dos recém-nascidos tinham idade gestacional inferior a 34 semanas, em comparação a 0,8% no grupo SM (p<0,05). No grupo SC-HSL a média do peso de nascimento foi de 2979g (632g) e a mediana foi 3057g (amplitude interquartil 2670-3335g, mín. 610g, máx. 4870g). No grupo SM a média foi de 3243g (522g) e a mediana foi 3227g (amplitude interquartil 2882-3590g, mín. 1830g, máx. 4645g) (P<0,001). Os pequenos para a idade gestacional foram 5/120 (4,2%) no grupo SM e 44/379 (11,6%) no grupo SC-HSL (P<0,005). Analisando-se apenas os pacientes do grupo SC-HSL, houve associação entre presença de manifestações clínicas e prematuridade: OR=3,0 (IC 95% 2,5-6,0). 11 Dos 398 recém-nascidos com sífilis congênita, 389 tiveram alta e 9 (2,3%) foram a óbito na UTI Neonatal. Ocorreu um óbito neonatal no grupo SM e foram identificados dois óbitos após o período neonatal. Dos 508 pacientes que tiveram alta, 256 (50,3%) retornaram ao HSL para pelo menos uma consulta. Para avaliar o crescimento e as possíveis sequelas, selecionamos apenas os pacientes que puderam ser examinados com pelo menos 8 meses de idade, perfazendo 120 pacientes do grupo SC e 27 do grupo SM. A mediana da percentagem da mediana do peso final no grupo SC foi 102,5 (amplitude interquartil 92-113, mín 52, máx 158) e no grupo SM foi 108 (amplitude interquartil 103-116, mín 85, máx 125); P<0,05. Excluindo-se os prematuros, a diferença continuou significativa: grupo SC 103 (amplitude interquartil 94-113,5 mín 52, máx 158) e grupo SM 109 (amplitude interquartil 104-120, mínimo 97, máximo 125); P<0,05. Dos 120 pacientes do grupo SC que foram examinados com pelo menos 8 meses, 16 (13,3%) apresentavam alguma sequela relacionada com a sífilis ou com a prematuridade (excluindo-se os que apresentavam apenas baixo peso). Nenhum dos 24 pacientes do grupo SM apresentava sequelas; P<0,05. Para comparar os 120 pacientes com sífilis congênita entre os com e sem sequelas em relação ao quadro clínico inicial (no período neonatal), incluímos apenas os 95 que tiveram quadro clínico conclusivo. Havia manifestações clínicas no período neonatal em 13 (92,9%) dos 14 com sequelas e em 31(38,3%) dos 81 sem sequelas. OR=20,9 (IC95% 2,6-168,3). CONCLUSÕES: As associações encontradas refletem a grande morbidade da sífilis congênita, principalmente nas mais precoces da gestação. Concluimos que a definição de caso atual, embora possa ter uma sensibilidade exagerada, está sendo altamente eficiente em identificar os recém-nascidos que não tem chance de estar infectados e apontar os recém-nascidos em risco de sífilis congênita, que não devem ter alta sem tatamento. Apesar do baixo índice de retorno, o estudo conseguiu mostrar que a sífilis congênita continua sendo uma doença de grande impacto, causando prematuridade, baixo peso, mortes neonatais, sequelas graves e irreversíveis nos recém-nascidos que sobreviveram, e as sequelas são mais frequentes nos recém-nascidos cujo tratamento foi iniciado mais tardiamente. Por outro lado, a maioria dos recém-nascidos com sífilis congênita, mesmo apresentando manifestações clínicas no período neonatal, respondem muito bem ao tratamento iniciado precocemente, evoluindo de forma satisfatória, desde que satisfeitas as condições ambientais básicas para seu crescimento e desenvolvimento.

ASSUNTO(S)

medicina pediatria epidemiologia saÚde pÚblica sÍfilis congÊnita gestaÇÃo recÉm-nascido doenÇas transmissÍveis transmissÃo vertical de doenÇa medicina

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