Epidemia de microcefalia e vírus Zika: a construção do conhecimento em epidemiologia
AUTOR(ES)
Albuquerque, Maria de Fatima Pessoa Militão de, Souza, Wayner Vieira de, Araújo, Thalia Velho Barreto, Braga, Maria Cynthia, Miranda Filho, Demócrito de Barros, Ximenes, Ricardo Arraes de Alencar, de Melo Filho, Djalma Agripino, Brito, Carlos Alexandre Antunes de, Valongueiro, Sandra, Melo, Ana Paula Lopes de, Brandão- Filho, Sinval Pinto, Martelli, Celina Maria Turchi
FONTE
Cad. Saúde Pública
DATA DE PUBLICAÇÃO
11/10/2018
RESUMO
Em agosto de 2015, neuropediatras de hospitais públicos do Recife, Pernambuco, Brasil, observaram um aumento do número de casos de microcefalia desproporcional associado a anomalias cerebrais. Esse fato gerou comoção social, mobilização da comunidade acadêmica e levou o Ministério da Saúde a decretar emergência de saúde pública nacional, seguida pela declaração de emergência de saúde pública de interesse internacional da Organização Mundial da Saúde. A hipótese formulada para o fenômeno foi a infecção congênita pelo vírus Zika (ZIKV), com base na correlação espaço-temporal e nas características clínico-epidemiológicas das duas epidemias. Evidências se acumularam e no âmbito do raciocínio epidemiológico preencheram critérios que deram sustentação à hipótese. Sua plausibilidade está ancorada no neurotropismo do ZIKV demonstrado em animais, atingindo neurônios progenitores do cérebro em desenvolvimento, e em seres humanos devido às complicações neurológicas observadas em adultos após a infecção. O isolamento do RNA e antígenos virais no líquido amniótico de mães infectadas e em cérebros de neonatos e fetos com microcefalia contribuíram para demonstrar a consistência da hipótese. O critério de temporalidade foi contemplado ao se identificar desfechos desfavoráveis em uma coorte de gestantes com exantema e positivas para o ZIKV. Finalmente, o primeiro estudo caso-controle conduzido demonstrou existir uma forte associação entre microcefalia e infecção congênita pelo ZIKV. O conhecimento construído no âmbito do paradigma epidemiológico recebeu a chancela da comunidade científica, construindo o consenso de uma relação causal entre o ZIKV e a epidemia de microcefalia.
ASSUNTO(S)
zika vírus microcefalia epidemias
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