Entre ficção e crítica: Abdellah Taïa leitor do orientalismo de André Gide

AUTOR(ES)
FONTE

Gragoatá

DATA DE PUBLICAÇÃO

2022

RESUMO

RESUMO: Propõe-se, neste artigo, uma leitura do complexo entrelaçamento de ficção, história, crítica literária, filosofia política e interseccionalidade, urdido na metaficção “Aquele que é digno de ser amado” (2017), de Abdellah Taïa, como forma de apropriação da obra de André Gide. Debate-se a releitura culturalista, efetuada pelo romance, do orientalismo sexual efebófilo do autor francês. Discute-se a analogia política estabelecida entre suas práticas sexuais com rapazes africanos e uma trama narrativa na qual o cotidiano da relação amorosa entre dois intelectuais, um marroquino imigrante em Paris e um nativo parisiense, está imbuído de motivações orientalistas, as quais Ahmed, narrador-personagem, chamará de “neocolonialistas". Espera-se demonstrar o pensamento crítico de Taïa ao expor a complacência da crítica literária em língua francesa relativa à objetificação dos corpos e das vidas dos sujeitos árabes representados na obra gideana. Para tanto, trata-se da recepção dos estudos culturais na França, de acordo com Brisson (2018) e Smouts (2010). Apresentam-se sumariamente os pressupostos metodológicos de Said (1990,1995) sobre o orientalismo, bem como uma contextualização, na obra de Gide, de seu “turismo oriental-sexual”. Passa-se, então, à análise da “transcontextualização” irônica (Hutcheon, 1985) empreendida pela narrativa de Abdellah Taïa. Recorre-se, igualmente, ao conceito de “não-lugar” da literatura de Souza (1999), para compreender os juízos de valor acerca do texto literário na crítica cultural e nos estudos literários. Da fortuna crítica de Abdellah Taïa e André Gide, invocam-se Heyndels e Zidouh (2020); Sanson (2013) e Kopp (2019), respectivamente.

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