Entre a invenção da tradição e a imaginação da sociedade sustentável : estudo de caso dos fundos de pasto na Bahia

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

Os fundos de pasto eram apenas áreas não cercadas de Caatinga, utilizadas para pastoreio comunal. Este padrão de ocupação que se desenvolveu em todo semi-árido nordestino foi progressivamente usurpado em um processo similar aos enclosures ingleses. Na Bahia, com os avanços sobre essas áreas a partir da década de 1970, houve articulações regionais e apoios institucionais que estimularam resistências diversas. Fundo de pasto passou a designar não só as áreas, mas os grupos sociais que os defendiam por deles depender. O termo fundo de pasto, antes regional, generalizou-se por todo o estado, principalmente após sua citação na constituição baiana. Os processos de acúmulo de forças e reconhecimento destes grupos sociais como população tradicional caminharam em paralelo. Fundos de pasto foram inventados como tradição, estratégia e oportunidade que fortaleceram a capacidade de proteger o domínio sobre a terra ocupada. A força desenvolvida pela categoria atrai toda a diversidade de comunidades que fazem uso comunal de terra na Bahia. Há uma diversidade que se abriga sob uma unidade pretensamente homogênea de comunidades sertanejas, coesas e caprinocultoras. Movimento, Estado e instituições afins aportam soluções que não se aplicam à realidade. As imagens obnubilam a realidade e as práticas e discursos produzidos a partir dessas imagens autonomizam-se. A sustentabilidade, além de ser um termo meramente incorporado ao discurso, pode contribuir para orientar leituras da insustentabilidade. A sustentabilidade poderia ser percebida como um bodecervo, um zero filosófico que facilita a construção coletiva de uma imagem ainda não formulada, mesmo que se parta de fragmentos daquilo que é entendido como sustentabilidade. A construção de novas imagens, novos discursos e novas práticas não ocorre no vazio, o coletivo dos fundos de pasto pode imaginar-se como sociedade sustentável a partir de um magma de significações próprio. Para tanto, a capacidade de diluir as imagens enrijecidas, os discursos e as práticas salvadoras exigiriam novos esforços coletivos. Esta construção é dificultada pela acomodação com as imagens vigentes, apesar do mal-estar frente à flagrante inadequação das mesmas e das soluções produzidas a partir delas. A possibilidade da instituição imaginária dos fundos de pasto como sociedade sustentável fica latente enquanto as forças da insustentabilidade avançam.

ASSUNTO(S)

fundos de pasto pastos comunais movimentos sociais sustentabilidade intervenção social populações tradicionais outros

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