Ensaios biológicos de genotoxicidade de um efluente de refinaria de petróleo

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2007

RESUMO

O desenvolvimento industrial juntamente com os outros setores da economia mundial gerou progresso e subsídio para o crescimento econômico de países do mundo todo. No entanto, os benefícios dos avanços tecnológicos vêm acompanhados de um aumento dos efluentes e despejos provenientes de diferentes tipos de indústrias, os quais se tornam indesejáveis subprodutos que carregam consigo milhões de toneladas de químicos tóxicos lançados todo ano no solo, ar e água. Em especial, as indústrias de refino de petróleo produzem efluentes ricos em metais pesados e químicos inorgânicos e orgânicos, como os hidrocarbonetos aromáticos, conhecidamente tóxicos. Neste contexto, faz-se necessário o desenvolvimento e aplicação de ferramentas para avaliação de amostras ambientais possivelmente impactadas por dejetos químicos. Neste trabalho, os efeitos biológicos de um efluente industrial de refino de petróleo foram observados por meio de diferentes metodologias ecotoxicológicas aplicadas em Allium cepa e em Corbicula fluminea, in vivo, e em células de hepatoma de rato (HTC), in vitro. A exposição do bivalve ao efluente foi avaliada pelo teste do cometa (pH>13), em três diferentes tempos (6, 24 e 96h) e depois de cada tempo os animais foram transferidos para aquários com água de poço para recuperação por 24, 72 e 144h. Um controle foi feito usando água de poço artesiano. Como resultado da exposição, houve, às 96h, um aumento significativo de quebras que geram fragmentos de DNA, detectadas após a corrida eletroforética, que foram gradualmente reparadas nos tempos de recuperação. Enquanto isso, parâmetros bioquímicos enzimáticos, catalase (CAT) e glutationa-S-transferase (GST), foram avaliados quanto à sua fisiologia nas brânquias. Os resultados significativos indicam que o animal apresentou reduzida atividade da CAT em 24 e 96h de tratamento, já que pode Ter havido excreção direta de peróxido de hidrogênio pelas brânquias ou suficiente ação da enzima endógena glutationa peroxidase (GPx). Entretanto, a GST esteve aumentada em 24 e 96h de tratamento e se manteve elevada mesmo em recuperação na hora 144. Os fragmentos (quebras e sítios álcali-labeis) detectados pelo ensaio do cometa podem ser atribuídos, principalmente, aos hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPA) que, quando metabolizados a compostos intermediários, formam aductos de DNA. No entanto, além da eliminação das lesões pelo sistema de reparo celular, a alta atividade da GST na hora 144, demonstra haver ação protetora excretando possíveis intermediários metabólitos quando não mais exposto à mistura complexa. Num outro sistema teste, o efluente foi avaliado quanto á capacidade de quebras ou perdas cromossômicas não reparadas pelo menos após um ciclo celular. O teste do micronúcleo em Allium cepa não detectou em 24 e 48h nenhum micronúcleo, porém, os químicos presentes neste efluente produziram lesões primárias no DNA, detectadas pelo ensaio do cometa, com 2h de exposição direta em cultura. Estes ensaios forneceram respostas diferentes mostrando haver maior sensibilidade e eficiência do ensaio do cometa. Além do ensaio, deve ser considerada a capacidade de metabolização de xenobióticos apresentada pelo tipo celular usado neste ensaio in vitro, ou seja, células HTC, que são xenometabolizadoras, capacidade esta menos eficiente nas células vegetais aplicadas neste estudo. Os resultados sugerem ainda que os principais agentes causadores de lesões genotóxicas deste despejo industrial devam ser dependentes de metabolização celular. Portanto, as observações reforçam a idéia de que os HPA são os principais causadores de lesões no DNA avaliadas neste trabalho e que os mecanismos de avaliação de genotoxicidade tornam-se melhor entendidos quando bioensaios de natureza diferente são combinados na análise.

ASSUNTO(S)

resíduos industriais citogenética cytogenetics industrial wastes molecular genetic genética molecular

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