Enfim só:: um olhar sobre o universo de pessoas idosas que moram sozinhas no município de Belo Horizonte (MG), 2007

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

Este estudo teve como objetivo investigar diferentes aspectos que condicionam a vida de idosos que moram sozinhos. Para isto, foram realizadas 40 entrevistas em profundidade, contando com a participação de idosos residentes nas diversas regiões do município de Belo Horizonte, pertencentes a diferentes grupos socioeconômicos. A escolha de Belo Horizonte se justifica pela possibilidade de contrastar o estilo de vida de uma grande metrópole brasileira com características da tradicional família mineira na qual a população idosa atual parece ainda se sustentar. A utilização de entrevistas em profundidade permitiu que o leque de investigação fosse além do foco nos fatores associados à decisão de morar sozinho. Com isto, é possível ir além da identificação dos fatores associados à opção por morar sozinho, para focalizar, sobretudo, os mecanismos que norteiam a formação desse tipo de arranjo domiciliar. Para garantir a confiabilidade das entrevistas foi ministrado a todos os entrevistados o Mini Exame do Estado Mental (MEEM), que avalia o estado cognitivo do respondente. Este procedimento permitiu que fossem incluídos na amostra apenas aqueles indivíduos que não apresentavam déficits cognitivos. Dada a importância do bem-estar psicológico nas respostas fornecidas pelos entrevistados, foi também ministrada aos idosos selecionados a versão brasileira da Escala de Depressão Geriátrica (EDG) reduzida. Entre os idosos entrevistados, quase metade começou a viver sozinho antes de completar 60 anos de idade, indicando que se trata mais de uma opção do que uma imposição contingenciada pela redução de alternativas de recompor as perdas por morte ou separação. Como era de se esperar, a grande maioria dos idosos entrevistados foi constituída por mulheres, já que elas compõem a maior parte do universo das pessoas com 60 anos ou mais. Ainda assim, observou-se diferencial por sexo nos relatos que descrevem os desafios vivenciados no início da vida sozinho. Em consonância com o estereótipo que pontua as relações de gênero, ao decidirem morar sozinhos, os homens reclamam ter que assumir papéis dito femininos, como cuidar de afazeres domésticos. Na mesma linha, as mulheres apontam as dificuldades em assumir responsabilidades ditas masculinas, como fazer movimentações bancárias e ordenar e aferir a prestação de serviços. Ainda que pautado, em maior ou menor medida, pelo relato de adversidades, o tom das entrevistas esteve muito longe de poder ser considerado nostálgico ou triste. Os idosos entrevistados dizem não se sentirem sozinhos ou não ficarem sozinhos e advertem, com veemência, que não desejam ficar ou se sentirem sozinhos. Os relatos revelam a inconteste tentativa desses idosos de buscar e conseguir interlocução com parentes e amigos não apenas quando se sentem impotentes, como diante de episódio de doenças. Diferentemente da tônica vigente nos anos 1980 e 1990, eles não disseram serem vistos como trapo ou como pessoas inúteis. Ao contrário, foram quase unânimes em destacar que, mesmo vivendo sozinhos, se sentem amparados por parentes ou amigos, o que lhes garante uma condição diferente daquela de se sentirem sós. O discurso que deles pareceu ecoar foi que não existiam idosos isolados, mas sim formas distintas de se relacionarem com familiares e amigos. Distintas porque não marcadas apenas por trocas financeiras, mas também, e principalmente, por trocas de carinho. Para a maioria dos idosos entrevistados esse sentimento de solidão teria lugar se, um dia, que eles esperam ou desejam que nunca chegue, se virem obrigados a residir em asilo ou abrigo fora do ambiente familiar. Fora desse ambiente, não enxergam luz no final do túnel.

ASSUNTO(S)

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