Em novela de 1897, uma imagem da cidade em direção à modernidade Estrychnina : na Porto Alegre do final do XIX, o moderno se envenena de desejo

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2006

RESUMO

A questão da modernidade ainda nos coloca como sujeitos de sua submissão e, talvez, por esta razão, se torne tão em voga, presente nas discussões de identidade e ocupação de espaços. Espaços estes de fragmentação do ser, onde o indivíduo se evidencia como sujeito, e a cultura passa a ser constituída enquanto clivagem de um conhecimento. Uma visão de modernidade contendo perpassado veloz de uma imagem do passado, que se permite fixar quando de seu reconhecimento. È a ânsia e a ressonância nas tramas que circundam a modernidade. Às vésperas da virada do século XIX, três escritores porto-alegrenses se reuniram, a fim de relatar aspectos da vida cotidiana, enfocando, dentre outros, os referentes ao desenvolvimento da cidade. Mário Totta, Paulino Azurenha e Souza Lobo, criaram Estrychnina, novela escrita em 1897, uma imagem da cidade em direção à modernidade, em cujo drama se torna possível perceber essa transitoriedade, a de um pretérito repercutindo concomitantemente com o agora. A cidade de Porto Alegre, ao final do século XIX, experimentava, também, através do estabelecimento de novos mitos, a fluidez que dela advinha, de um moderno como que se envenenando de desejo. As notícias veiculadas no Correio do Povo, a esta época, igualmente revelavam aspectos em que se destacava a importância de estar em sintonia com os novos ideais que, mitificados e já vivenciados por outras capitais do centro do país, apresentavam-se a uma sociedade então já identificada com os mesmos. História e Literatura, ao apresentarem-se como formas lingüísticas que pressupõem um processo e estratégias de organização da realidade, ultrapassagem do documento X ficção; fato/verdade X imaginário, constituindo busca de aproximação, significação e polissemia através do imaginário, são aqui tomadas como referência e fonte para uma análise a respeito do período e visão em questão. Sentindo-se impotente frente à convenção estabelecida e bem demarcada pela sociedade, o indivíduo percebe-se fadado à falência do que projetado nele foi. Este homem, fruto de um vazio social, enigma da modernidade, não se sente autorizado à possessão plena do mundo e de si mesmo, uma vez que a seu interior e da vida social e da natureza foi transferido o caráter de outro, alteridade. Tentando encontrar a subelevação longe dos limites da finitude, que lhe acena com uma reconciliação e integração possível com o mundo, evoca o suicídio, um rompimento com os laços sociais. O desejo pela morte, não significando necessariamente uma oposição à vida, pode ser visto como condição promotora de encontro com a realidade absoluta, através de uma vida mais completa, em que se inclui a experiência da morte. Assim concebida, anseio por uma transformação rápida, ela se afirma como parada e fim de qualquer processo; mais instigante, por demandar resposta vitalmente completa; representação de embate com a tragédia, em que se extingue o meramente pessoal, na transposição da vida para dentro do mito.

ASSUNTO(S)

cultura - porto alegre, estrychnina - crÍtica e interpretaÇÃo historia romances rio-grandenses - sÉculo xix literatura - histÓria porto alegre - histÓria - sÉculo xix

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