Em Grupos de Tabagismo, há limite para a participação de usuários não aderentes?

AUTOR(ES)
FONTE

Núcleo de Telessaúde Santa Catarina

DATA DE PUBLICAÇÃO

12/06/2023

RESUMO

Não há limite para a participação de usuários em Grupos de Tabagismo nas Unidades Básicas de Saúde, não sendo identificada uma orientação formal sobre o número de vezes que um usuário pode participar desta atividade. Destaca-se que o tratamento do tabagista que recaiu necessita de mais estudos científicos específicos para essa população

. Especificamente quanto à abordagem dos fumantes que tiveram lapso ou recaíram após uma abordagem básica/mínima, sugere-se que sejam abordados sem críticas, analisando-se as circunstâncias de recaída, retornando ao processo da abordagem cognitivo-comportamental e estimulando-o a tentar novamente

. Caso o profissional julgue necessário, poderá encaminhá-lo para a abordagem específica/intensiva

.

É importante que o profissional de saúde identifique os fatores que contribuíram para que o fumante recaísse, para traçar estratégias para uma nova tentativa

. Pode-se perguntar

: Que situação o fez acender o primeiro cigarro?  O que estava fazendo quando acendeu o primeiro cigarro da recaída?  O que aconteceu depois?  Quantos cigarros está fumando atualmente?  Voltou a fumar a mesma quantidade que fumava antes de deixar de fumar? É importante, também, avaliar se a situação da recaída necessita de uma abordagem especializada (em casos de recaída devido à manifestação de sintomas de depressão ou outras comorbidades psiquiátricas, por exemplo, pode ser indicado encaminhar o usuário a um psiquiatra), identificar se o usuário está pronto para reiniciar o processo e aconselhar nova tentativa procurando trabalhar estratégias para lidar com as situações que o fizeram recair

.

Em geral, a abordagem ao tabagista em recaída pode ser realizada de forma individual ou em grupo, dependendo da avaliação do profissional de saúde

. Da mesma forma, o uso de medicamentos também dependerá da avaliação inicial do profissional, podendo ser o mesmo medicamento usado anteriormente, ou não

. Pode-se optar também por uma combinação de medicamentos

. Deve ser verificado se o usuário possui algum fator de risco que impossibilite o uso das medicações. Caso não possua nenhuma restrição, indica-se uma conversa para identificar como está fazendo uso da medicação ou, ainda, que a temática seja abordada de uma maneira geral no grupo de tabagismo, sem direcionar especificamente ao usuário em questão, explicando a todos como deve ser feito o uso de forma correta, inclusive quanto à quantidade e aos efeitos adversos comuns, dando ênfase na questão de que a medicação não irá por si só fazer a pessoa parar de fumar.

É importante salientar que nem sempre é necessário o uso de medicação nestes casos. Outras medidas podem ser utilizadas, como o estímulo ao consumo hídrico adequado, às mudanças alimentares (como consumo de cenoura em palitos, sementes fibrosas, maçã seca e outros) e ao uso da acupuntura, tendo sido identificadas quatro revisões sistemáticas que abordam seu uso no tratamento do tabagismo que colocaram que, ainda que menos eficaz “do que a terapia de reposição de nicotina e as intervenções psicológicas

na redução das taxas de abstinência em curto prazo

; vários pacientes relataram que se sentiram melhor com o uso da acupuntura

por perceberem que a técnica reduz o paladar para o tabaco, ansiedade e o desejo de fumar, durante a abstinência do fumo por seis ou mais meses”

.

Quando identificada necessidade, o apoio farmacoterápico tem um papel bem definido no processo de cessação de fumar, que é minimizar os sintomas da síndrome de abstinência, quando estes representam uma importante dificuldade

. Sua função é, portanto, facilitar a abordagem comportamental na fase em que manifestam sintomas da síndrome de abstinência

. Em resumo, embora o apoio medicamentoso aumente as chances da cessação, para que se alcance um resultado satisfatório não deve ser usado fora do contexto do apoio comportamental, onde o usuário vai sendo paulatinamente estimulado e orientado a lidar com a dependência psicológica e a se “descondicionar” das associações feitas com o cigarro

.

O Ministério da Saúde recomenda que o tratamento da dependência à nicotina tenha como base, portanto, a técnica da abordagem cognitivo-comportamental, definida como um modelo de intervenção centrado na mudança de crenças e comportamentos que levam um indivíduo a lidar com determinadas situações

. Em relação ao tabagismo, a abordagem deve ter como objetivo a detecção de situações de risco que levam o indivíduo a fumar e o desenvolvimento de estratégias para enfrentamento dessas situações, visando não só a cessação do tabagismo, mas também a prevenção de recaídas

.

Por fim, o atendimento às pessoas com problemas relacionados ao uso de tabaco é muito complexo, pois envolve, além de conhecimentos técnicos, uma vinculação pessoal, diretamente relacionada às crenças e percepções pessoais do próprio profissional envolvido

. Oferecer, portanto, uma atenção acolhedora, sem críticas e construída pelo vínculo e corresponsabilização junto aos usuários em tratamento contra o tabagismo, é uma função importante dos profissionais de saúde envolvidos com o cuidado, especialmente em situações de recaídas

.

SOF Relacionada:

1. Rio de Janeiro. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Divisão de Controle do Tabagismo. Coordenação de Ações Estratégicas. Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas dependência à nicotina. 2013. Disponível em

[acesso em 31 janeiro 2017].

2. Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Abordagem e tratamento do fumante: Consenso. Brasília: Ministério da Saúde; 2001. Disponível em:

[acesso em 31 janeiro 2017].

3. Núcleo de Telessaúde de Santa Catarina. A acupuntura pode ser usada no tratamento do tabagista. Segunda Opinião Formativa. ID: sof-23275. 2016. Disponível em:

[acesso em 05 abril 2017].

4. Cargnelutti T. Estratégias motivacionais e o profissional da saúde na cessação do tabagismo. Monografia – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Odontologia de Piracicaba. Piracicaba. SP:s.n., 2014. Disponível em:

  [acesso em 31 janeiro 2017].

ASSUNTO(S)

processo de trabalho na aps fisioterapeuta p17 abuso do tabaco abandono do uso de tabaco atenção primária à saúde hábito de fumar

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