Em busca do sofrimento histerico : a histeria e o paradigma da melancolia

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2002

RESUMO

Os estudos sobre a histeria apontam - explícita ou implicitamente - a necessidade de ser determinar a natureza do que chamaremos neste trabalho de o sofrimento histérico. O desafio é tanto teórico quanto clÚlico,o que justifica a criação de modelos capazes de melhor depreender sua especificidade. Nossa hipótese é a de que a melancolia constitui um paradigma, eficaz do ponto de vista teórico e clínico, para a aproximação do que faz sofrer a histérica. Ainda que todo sintoma seja, como mostrou Freud, uma solução de compromisso e, portanto, contenha uma satisfação, isso parece mais evidente na histeria, o que provoca um descrédito em relação à sua dor. A atualidade de uma discussão sobre a histeria é aqui debatida a partir das implicações clÚlicas do desaparecimento dessa categoria das classificações psiquiátricas atuais. A dimensão intersubjetiva do sintoma em psicopatologia bem como as implicações clínicas de uma abordagem operacional e pragmática que abandona a escuta da histeria são problematizadas. Faz-se, em seguida, um percurso pelos textos freudianos apontando-se, a partir deles, alguns de seus aspectos fundamentais: a associação entre histeria e feminino e a importância da regressão narcísica na histeria. Alguns casos clínicos serão apresentados e certas questões relativas à hipótese destacadas. Além de permitir o esclarecimento do que se chama de sofrimento neste trabalho, as discussões clÚlicas permitirão ilustrar alguns traços histéricos e a dificuldade experimentada pelo analista em deixar-se afetar por tal sofrimento. A partir do segundo e terceiro casos clínicos faz-se uma reflexão sobre as semelhanças e diferenças entre histeria e estados-limites para, finalmente, situar a dolorosa incompletude da histérica e seus meios para lidar com ela. A quarta parte do trabalho visa à construção do paradigma da melancolia diferenciando, inicialmente, melancolia de depressão e justificando a escolha do primeiro termo. São revisitadas as elaborações freudianas acerca da melancolia e, a partir de um último caso clínico, a pertinência do modelo será, finalmente, demonstrada. Momentos de melancolização surgem freqüentemente nos tratamentos das mais diferentes patologias, o interesse que eles despertam aqui advém, porém, do caminho que eles apontam: a função paradigmática da melancolia. Na falência das defesas histéricas em direção à conquista de uma posição feminina, algo da ordem de um "buraco hemorrágico" parece escavar-se. o sujeito abandona a reivindicação incessante de ser amado incondicionalmente e a castração, até então contornada pelos mecanismos histéricos, passa a ser afirmada provocando um esvaziamento de sentidos e instalando a ameaça do nada. O melancólico, tendo sofi-idoo desaparecimento do Outro ao qual procurava identificar-se, identificou-se ao nada. O sujeito histérico resiste na sua insatisfação, afirmando não ter o que deseja, para não ver despedaçada sua fi-ágilidentificação narcísica. A relação entre essas duas posições permitirá, uma nova abordagem sofi-imentohistérico e seus efeitos no manejo clínico. do Em um momento de retraimento narcísico na histeria propõe-se diferenciar a vivência do nada, destruidor do reino da fantasia, do vazio que se associa ao feminino e que, suportado na transferência, pode constituir um espaço para a construção da metáfora e assimilação da ausência

ASSUNTO(S)

melancolia psicanalise histeria psicoterapia

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