Efeitos da migração sobre os salários no Brasil / Effects of migration on wages in Brazil
AUTOR(ES)
Ricardo da Silva Freguglia
DATA DE PUBLICAÇÃO
2007
RESUMO
Esta tese tem como objetivo central a análise da migração dos trabalhadores brasileiros e de seus efeitos sobre os diferencias salariais observados. Para isto, dois bancos de dados distintos foram construídos a partir de um longo painel de trabalhadores proveniente da RAIS-Migra (Ministério do Trabalho e Emprego) no período de 1995-2002. Com o primeiro banco, busca-se investigar o que ocorre com os diferenciais de salários entre os estados brasileiros, setores e ocupações após o controle pelas características não-observáveis, fixas no tempo, dos indivíduos. A idéia é examinar em que medida esses diferenciais ocorrem devido à concentração de trabalhadores com alta habilidade em alguns estados/setores/ocupações. Os principais resultados mostram que a magnitude dos diferenciais se torna até vinte vezes menor e que a significância estatística é substancialmente reduzida. Ocorre também uma reordenação entre as regiões e as indústrias. A variabilidade global diminui em até oito vezes, evidenciando a relevância da heterogeneidade individual não-observada ao explicar cerca de 70%, 83% e 88% dos diferenciais inter-regionais, inter-industriais e inter-ocupacionais, respectivamente. Com o segundo banco de dados, analisam-se os retornos à migração dos trabalhadores do estado de São Paulo, com ênfase na seleção e no ajustamento. Especificamente, busca-se estimar o salário relativo com o controle dos efeitos fixos individuais para capturar o viés decorrente da seleção positiva dos migrantes. Os principais resultados encontrados indicam a presença de viés de auto-seleção nas estimativas dos salários relativos por MQO, que apresentam coeficientes (positivos) bastante superiores aos coeficientes estimados por efeitos fixos (com sinal negativo). Há, portanto, perdas salariais para as pessoas que migram para São Paulo, que não possuem informação perfeita sobre o custo de vida. Na análise da assimilação do migrante em São Paulo, encontram-se evidências de ampliação dos ganhos salariais a taxas decrescentes, mas sem indicações de que os retornos dos migrantes superem o dos não-migrantes de modo permanente. Alguns grupos, porém, destacam-se na migração bem-sucedida. Os trabalhadores com o ensino superior encontram espaço no mercado de trabalho paulista, com ganhos em torno de 7% em relação aos não-migrantes. Outros ganhos decorrentes da migração também são registrados entre os trabalhadores dos setores de agropecuária e comércio, provenientes da região nordeste, pertencentes às ocupações de agricultura/florestais/pesca e científicas/técnicas/artísticas. Por fim, constata-se que os retornos à emigração, mesmo após a inclusão de efeitos fixos, são positivos. Em geral, os resultados são consistentes com a hipótese de que o elevado custo de vida em São Paulo pode não apenas trazer o migrante de volta para seu local de origem, mas também provocar uma emigração dos trabalhadores residentes em São Paulo para outras regiões do Brasil.
ASSUNTO(S)
migração salários wages economia do trabalho econometria migration fixed effects labor economics
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