Efeito da fragmentação sobre a comunidade de tatus e tamanduás (Mammalia: Xenarthra) no cerrado brasileiro : uma abordagem da ecologia de paisagens

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

O Cerrado brasileiro vêm sendo desmatado e alterado a uma taxa sem precedentes. Até 2002, pelo menos 55% da área do Cerrado já tinha sido desmatada por atividades humanas. O impacto desse processo envolve a perda de área de vegetação nativa e o isolamento crescente dos remanescentes. O objetivo do primeiro capítulo desse trabalho foi descrever os padrões observados na riqueza e equidade da comunidade de Xenarthra, um grupo ecologicamente importante e muito pouco conhecido, frente à fragmentação no Cerrado. Além disso, objetivou-se avaliar se as espécies alteram seus padrões de atividade em áreas mais degradadas, como forma de lidar com a maior escassez de recursos e de áreas adequadas para forrageio. O estudo foi conduzido por armadilhagem fotográfica em dez regiões no Cerrado. Foram registradas nove espécies: tatu-canastra (Priodontes maximus), tatu-peba (Euphractus sexcinctus), tatu-galinha (Dasypus novemcinctus), tatu-do-rabo-mole (Cabassous unicinctus), tatu-bola (Tolypeutes tricinctus), tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla) e tamanduábandeira (Myrmecophaga tridactyla). As análises de riqueza realizadas levaram em consideração todas as espécies. A riqueza e a equidade (pelo índice Probabilidade de Encontros Interespecíficos de Hulbert) das áreas foram comparadas e revelaram estruturas de comunidades diferentes nas áreas amostradas. De modo geral, observa-se um sucesso amostral maior em regiões que supostamente funcionam como refúgios ou corredores ecológicos. A divisão das unidades amostrais, criadas em duas escalas de 5x5km e de 10x10km, foi realizada por métricas de paisagem que descrevem características diferentes do processo de fragmentação: 1) Área de remanescente (CA); 2) Número de fragmentos (NumP); 3) Tamanho médio de fragmento (MPS); 4) Densidade de borda (ED); 5) Índice de forma médio ponderado pela área (AWMSI); 6) Número de áreas núcleo (NCA) e 7) Distância média do vizinho mais próximo (MNN). Assim, foram obtidos dois grupos, classificados como mais e menos fragmentados. A riqueza entre ambos os grupos não diferiu. A comparação da equidade entre esses grupos sugeriu que M. tridactyla e P. maximus, as maiores espécies do grupo, são menos abundantes em áreas mais fragmentadas. As demais espécies são mais abundantes em áreas mais fragmentadas, possivelmente sugerindo algum grau de liberação ecológica pela exclusão de seus competidores ou predadores. Para a análise de modelos de efeitos mistos, foram desconsiderados o Cabassous unicinctus (n=1) e o Tolypeutes tricinctus (n=1) devido ao seu escasso registro. Esta análise, feita com o intuito de identificar mudanças na abundância de registros diurnos e noturnos das espécies, somente revelou diferença no padrão de atividade de M. tridactyla entre áreas mais e menos fragmentadas. Portanto, apenas para esta espécie há corroboração para a plasticidade comportamental testada. No segundo capítulo, objetivou-se descrever e identificar os elementos da paisagem e os aspectos da fragmentação que mais influenciam a abundância das espécies (excetuando C. unicinctus e T. tricinctus). Uma análise de correspondência canonica parcial (CCAp) demonstrou que apenas CA e AWMSI foram selecionadas como significativas na explicação da abundância das espécies, para a escala de 5x5 km. Na escala de 10x10 km, apenas a métrica AWMSI foi selecionada pelo modelo. De modo geral, M. tridactyla, P. maximus e E. sexcinctus, as espécies com maiores requerimentos de áreas de vida, foram as mais dependentes de fragmentos circulares e regulares (valores baixos de AWMSI) e sensíveis à perda de hábitat (valores altos de CA). T. tetradactyla esteve mais associada à valores medianos a altos de AWMSI, o que pode estar associado a algum grau de liberação ecológica, pela exclusão de competidores e predadores mais sensíveis à fragmentação. Já D. novemcinctus pareceu estar muito pouco associada a qualquer um dos fatores.

ASSUNTO(S)

xenarthra comunidades padrão de atividade fragmentação ecologia de paisagens ecologia

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