Educação e cultura no rádio brasileiro: concepções de radioescola em Roquette-Pinto. / Education and culture on the brazilian radio: Roquette-Pinto radioschool conceptions.

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

Esta pesquisa aborda a primeira experiência sistemática de utilização do rádio como tecnologia educacional no Brasil: a Rádio Escola Municipal do Rio de Janeiro (PRD-5), inaugurada em 1934. A iniciativa foi concebida por Edgard Roquette-Pinto em meados dos anos 1920, quando o debate do uso de tecnologias educacionais ganhou força com as reformas estaduais dos sistemas de ensino. Com formação médica, contando com sólida carreira antropológica no Museu Nacional e envolvido no início oficial do rádio brasileiro, Roquette- Pinto elaborou um "diagnóstico" dos problemas nacionais fundamentando-se sobretudo no debate antropológico sobre a mestiçagem das décadas de 1910 e 20. Com essa base, propôs como "remédio" para resolver tais problemas a educação. Gravitando no entorno da Associação Brasileira de Educação (ABE), postulou que o rádio poderia chegar a todos que não tivessem acesso à escola. O intuito era "abrasileirar" o brasiliano, trazendo o sertanejo "atrasado" para um suposto nível mais avançado de "civilização". Seu fim último era um projeto de modernização conservadora, que teria os intelectuais como vanguarda capaz de moldar as "massas amorfas" e de conduzir a classe política para assegurar o desenvolvimento nacional. Em sua experiência da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro (PRA-2), primeira emissora oficialmente reconhecida no Brasil (1923), propunha-se a difundir a cultura erudita, sob uma perspectiva impositiva e dirigista, no momento em que a "indústria cultural" estava florescendo no país. O eruditismo, elemento distintivo da concepção de radiodifusão de Roquette, buscava difundir entre os radiouvintes os conhecimentos produzidos pela intelectualidade, com foco nas ciências naturais, letras e artes. Oposto a esse campo da radiodifusão educativo-cultural, desenvolveu-se o comercial, fundamentado na lógica de mercado, dependendo do patrocínio e da audiência para sobreviver. Este último tornou-se hegemônico a partir do início da década de 1930, fazendo com que a radiodifusão educativocultural tentasse conquistar espaços institucionais, apoio governamental e público para o perfil de cultura que pretendia difundir. Um dos espaços conseguidos foi a PRD-5, pensada especificamente como uma emissora escolar. Elementos da experiência da PRA-2 foram absorvidos na Rádio Escola Municipal, mas ela se destacou por focar o público infantil (ensino primário), os professores e a educação de adultos. A PRD-5 ficou abrigada no Instituto de Educação do Rio de Janeiro (IERJ) e, caso a Universidade do Distrito Federal (UDF) não fosse desmontada pelo governo federal, se tornaria rádio universitária destinada à extensão. Para estudar as concepções de radioescola em Roquette-Pinto, desde os projetos até as realizações, realizou-se prospecção biográfica para compreender a estruturação de seu pensamento e de sua conversão de antropólogo para educador. A experiência na Rádio Sociedade, mais dedicada à cultura geral do que especificamente ao ensino, foi analisada na medida em que forneceu padrões e questionamentos relevantes para elaborar o projeto radioescolar. A partir desses elementos e de levantamento documental, foi possível identificar concepções de uso dos meios de comunicação no ensino que se perpetuam até hoje nas tecnologias educacionais.

ASSUNTO(S)

intelectuais history of education rádio e educação roquette-pinto tecnologias educacionais educational technologies roquette-pinto intellectuals história da educação cultura e organização das comunicações culture and organization of communications radio and education

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