Ecologia populacional e extrativismo de frutos de Caryocar brasiliense Camb. no cerrado no Norte de Minas Gerais

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2009

RESUMO

Apesar do grande interesse no uso de produtos florestais não madeireiros (PFNM), os efeitos do extrativismo sobre as espécies exploradas são pouco conhecidos. Informações sobre aspectos ecológicos, sociais e econômicos dos PFNM, são essenciais para determinar o potencial para o extrativismo sustentável, que seja rentável, a partir de um sistema manejado. O estudo teve como objetivo caracterizar a ecologia populacional e aspectos etnobotânicos do pequi (Caryocar brasiliense Camb.), uma árvore com ampla distribuição pelo bioma Cerrado, com frutos que constituem um importante recurso alimentar para comunidades rurais. A demografia de uma população de C. brasiliense foi estudada no Cerrado sentido restrito, em uma área conhecida localmente como Chapada do Areião, onde ocorre o extrativismo de frutos para produção de óleo. A atividade extrativista e a cadeia produtiva dos frutos de pequi foram caracterizadas na Comunidade Água Boa 2, no Município de Rio Pardo de Minas, Região Norte de Minas Gerais. As taxas de recrutamento, crescimento e sobrevivência dos indivíduos, classificados por tamanho, foram obtidas para o intervalo de um ano, entre 2007 e 2008. A produção média de frutos por indivíduo (11810,9; n=100 e 99,8 8,7; n=127) não variou entre as duas safras (t=1,40; p=0,164), assim como não houve diferença significativa na produtividade entre os subtipos de Cerrado Ralo, Típico e Denso (F3,119=0,48; p=0,70). Entretanto, a densidade de indivíduos reprodutivos por hectare foi significativamente maior com o adensamento das fitofisionomias, sendo de 118,0 indivíduos.ha-1 no Cerrado Denso, 36,0 indivíduos ha-1 no Cerrado Típico e 5,7 indivíduos.ha-1 no Cerrado Ralo (F5,192=5,68; p<0,001). A germinação em campo é lenta e pouco expressiva, somente 1,65% dos putâmens germinados após 314 dias de plantio, sendo que o consumo de putâmens pela fauna foi estimado em 54,7%. A taxa de crescimento populacional (? =0,997) indica decréscimo da população, que parece ocorrer em função do baixo recrutamento e lento crescimento das plantas. Simulações com modelos matriciais indicam que o extrativismo de 91% dos frutos não compromete o crescimento populacional, mas considerando-se o consumo de frutos pela fauna local, o extrativismo não deve exceder a 36,3% do total. Durante uma média de 15 a 26 dias, nos meses de janeiro e fevereiro, os extrativistas fazem a coleta de frutos para o processamento do óleo de pequi, com rendimento total médio de R$ 446,60 por família, apenas com a venda do óleo, o que representa 11% da receita familiar anual. O retorno econômico com a comercialização do óleo da polpa do pequi é estimado em R$ 42,00 por família, por cada lote de putâmens processados em dois dias de trabalho. Considerando o potencial de extrativismo sustentável (coleta limitada a 36,3% dos frutos) e a densidade natural das plantas nas áreas de coleta, com a comercialização do óleo de pequi, o rendimento econômico médio por hectare é estimado em R$ 26,80. O presente trabalho indica o potencial ecológico e econômico para o extrativismo sustentável de C. brasiliense na Chapada do Areião e levanta informações que podem ser utilizadas para formulação de um plano de manejo específico. As estratégias conservação devem considerar o limitado crescimento populacional e a alta sensitividade da população de pequizeiros à mortalidade dos indivíduos reprodutivos.

ASSUNTO(S)

manejo sustentável ecologia produtos florestais não madeireiros etnobotânica pequi cadeia produtiva economia botânica

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