Ecologia e comportamento de Alouatta guariba clamitans Cabrera, 1940, em um fragmento de mata de araucária na serra gaúcha

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2009

RESUMO

Alterações na disponibilidade de itens alimentares e variações na temperatura ambiente geralmente induzem mudanças no padrão de atividades dos animais e em seus comportamentos posturais e de seleção de micro-hábitat. O presente trabalho avaliou a ecologia e o comportamento de um grupo composto por seis bugios-ruivos, Alouatta guariba clamitans, habitante de um fragmento de mata de araucária de 2,2 ha na serra gaúcha, para verificar se mudanças na dieta e na temperatura do ambiente influenciaram o seu padrão de atividades e o uso de estratégias de termorregulação comportamental. Foram coletados 12684 registros de comportamento através do método de varredura instantânea durante 636 horas de observação, distribuídas em 12 meses (novembro de 2007 a outubro de 2008). O comportamento mais frequente ao longo do ano foi o descanso (60% dos registros), seguido pela alimentação (20%), locomoção (17%), comportamento social (2%) e outros (1%). O principal item da dieta foram as folhas (78%), seguido pelos frutos (15%), sementes de Araucaria angustifolia (4%), flores (2%) e outros itens (1%). Os animais utilizaram 42 espécies vegetais como fonte de alimento, com uma média diária de nove espécies. Não houve variação significativa no número de espécies consumidas diariamente ao longo do ano. O consumo de folhas apresentou relação direta com o percentual de registros dedicados ao descanso (rs=0,6045, n=60, p<0,0001) e relação inversa com o percentual de registros de locomoção (rs=0,3724, n=60, p=0,0034), enquanto o consumo de frutos não apresentou relação significativa com esse último comportamento (rs=0,2148, n=60, p=0,0993). O número de espécies vegetais utilizadas diariamente na alimentação não mostrou relação com os comportamentos de alimentação (rs=0,2386, n=60, p=0,0663) e locomoção (rs=0,1095, n=60, p=0,4048). O percurso diário mostrou-se diretamente associado ao consumo de frutos (rs=0,4253, n=60, p=0,0007) e inversamente relacionado ao consumo de folhas (rs=0,3324, n=60, p=0,0094). A porcentagem de registros de locomoção relacionou-se positivamente com o percurso diário (rs=0,4415, n=60, p=0,0004). A temperatura ambiente influenciou o uso das posturas corporais (r2=0,8383, n=14, F-ratio=68,3823, p<0,0001) e a distância interindividual dos bugiosruivos durante o descanso (contato: r2=0,9535, n=14, F-ratio=267,7601, p<0,0001; 01 m: r2=0,9605, n=14, Fratio= 316,7936, p<0,0001), mas não alterou a seleção de micro-hábitats (r2=0,0327, n=14, F-ratio=1,4399, p=0,2524). Em resumo, a composição da dieta afetou o comportamento dos animais, enquanto a temperatura ambiente influenciou a adoção de estratégias de termorregulação comportamental. Esses aspectos parecem desempenhar um importante papel na adaptação dos animais a ambientes com marcada sazonalidade térmica e de disponibilidade de recursos alimentares.

ASSUNTO(S)

zoologia macacos animais - hÁbitos e conduta ecologia habitat dos animais zoologia

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