DUAS NARRATIVAS PARA O LUGAR DOS INDÍGENAS NAS ORIGENS DA NAÇÃO: A HISTÓRIA FICCIONAL DE MAGALHÃES E ALENCAR

AUTOR(ES)
FONTE

Almanack

DATA DE PUBLICAÇÃO

13/12/2019

RESUMO

RESUMO História e literatura exprimem sentidos ao mundo social por meio de narrativas que subsidiam a investigação histórica, com pistas fragmentárias de suas redes de interlocução social e intertextual. Em consonância com esses pressupostos teórico-metodológicos, este artigo analisa o indianismo preconizado pelo Romantismo brasileiro, por meio do estudo da polêmica entre Domingos José Gonçalves de Magalhães e José de Alencar. A Confederação dos Tamoios (1856), poema épico escrito por Magalhães e narrado em forma de versos, descrevia o conflito empreendido pelos índios Tamoios, no período de 1554 a 1567, contra os portugueses e sua prática de escravização indígena. O poema não teve aceitação totalmente elogiosa, com destaque para as críticas de José de Alencar que, sob o pseudônimo de Ig, alegou que o formato de epopeia não captava o heroísmo idealizado às personagens indígenas e às especificidades do Brasil mediante o pouco destaque atribuído às características da natureza. O ponto de convergência na abordagem de ambos era a ênfase na figura do indígena, gestada a partir de uma aproximação com os relatos de cronistas, mas por intermédio de maneiras distintas de usufruto: Magalhães adotava a fidelidade ao “testemunho”, sem a idealização, enquanto Alencar seguiu o caminho inverso e poetizou os nativos. Tais embates literários confirmaram a formulação de uma literatura romântica pautada no estudo de cronistas para a composição de textos ficcionais, demarcando a evidência da fluidez entre história e literatura no universo letrado oitocentista.Abstract History and literature express senses to the social world via narratives that subsidize historical investigation, with fragments of its networks of social and intertextual dialogue. In accordance with those theoretical and methodological assumptions, this article aims to analyze the Indianism promoted by Brazilian Romanticism, through the study of the controversy between Domingos José Gonçalves de Magalhães and José de Alencar. A Confederação dos Tamoios (1856), epic poem written by Magalhães and narrated in the form of verses, depicted the 1554-1567 conflict undertaken by indigenous Tamoio people against the Portuguese and their practice of indigenous slavery. The poem did not have a totally positive reception, with emphasis on José de Alencar’s criticism who, under the pseudonymous Ig, claimed that the epic format did not capture the idealized heroism of indigenous characters and the specificities of Brazil, due to lack of emphasis attributed to characteristics of nature. A mutual point of convergence in the approach was the emphasis on the indigenous character, born out of an approximation with accounts from chroniclers, though via different approaches: Magalhães adopted the fidelity to “testimony” sans idealization; while Alencar followed the opposite way and poetized natives. These literary clashes confirmed the formulation of a Romantic literature, based on the study of chroniclers for composition of fictional texts, evidencing the fluidity between History and Literature in the nineteenth-century literary universe.

Documentos Relacionados