Do ponto do meio ao auscultar do estalo: o percurso transformativo dos gêneros do discurso no processo de criação dramática de Luís Alberto de Abreu

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2011

RESUMO

Edificada sob a criação colaborativa, parte da obra de Luís Alberto de Abreu torna-se fruto de um movimento dialógico que se arquiteta via discursos de diferentes sujeitos, de horizontes sociais distintos, que participam da sua concepção e da relação com outros discursos, textos e elementos transtextuais que evidenciam as vozes e o emaranhado de fios ideológicos que se entrecruzam no âmago de suas criações. No intento de compreender o percurso transformativo do discurso cotidiano em obra estética, no imo do processo de criação utilizado por este dramaturgo, num primeiro momento procurei desvendar o que se encontrava no ponto do meio da passagem de um gênero primário (oral, depoimentos) para um mais elaborado, um secundário (teatro), até me deparar com o alerta de Bakhtin (2003) e estancar minha busca pela linha limítrofe, passando a direcionar minhas atenções ao que se pousa além do meio, o que está mais longe, alhures, e que atribui sentido aos enunciados no seu contexto imediato e estético. Para tal recorri a categorias preconizadas por esse filósofo, quais sejam: gêneros do discurso, estilo, autor e herói, enunciado, carnavalização, polifonia, dialogismo. Deste modo, coloquei na palma da minha mão esquerda o que Bakhtin considera como gênero do discurso primário e no centro da direita o que ele denomina secundário, bati uma palma e parti em busca do estalo, considerando ser este que me direcionará por veredas que me facilitarão compreender tal fenômeno, olhando para o movimento que ocorre na tríade que dá forma a um gênero discursivo estilo, forma composicional e tema. Ao conceber uma reflexão de como este dramaturgo ao se pautar na história oral se vale de discursos de pessoas comuns, transforma-os em heróis e os leva ao centro da trama, busquei identificar no seu processo criativo como se dá à possibilidade de fusão do real (vida cotidiana, ética) com o fictício (dramático, estética). Para objeto desta compreensão elegi uma obra assinada por Abreu: BorAndá: auto do migrante (2004), e me debrucei sobre várias materialidades que encarnam a essência desta criação, como as entrevistas para sua concepção, as fotografias do espetáculo, o texto dramático e a própria encenação. Constatei no meio do caminho que esta obra possui [pág ina viii] características que as leva ao encontro do pensamento bakhtiniano de que o discurso nasce nos entremeios cotidianos e a polifonia que circunda e configura sua arquitetônica erige seu significado no interior das relações de alteridade entre sujeitos, em que o outro é indispensável na concepção do eu, e o discurso destes se constituem à medida que se inserem numa perspectiva exotópica. Isso me leva a crer que Abreu, enquanto enunciador, para conceber seu discurso, pondera a voz do outro que marca presença na sua e que intervém na estrutura e formação de suas narrativas ao conceber um teatro polifônico, repleto de heróis polivalentes. Verifico que é da obra de um eminente porta-voz da literatura francesa; François Rabelais, que ele recupera algumas práticas cotidianas que se apresentam como o lugar de onde refletem e também emergem indícios que identificam as ideologias que circulam na sociedade. Assim, por meio de BorAndá, procurei compreender as relações e os veículos permanentes e consagrados do principio carnavalesco na vida cotidiana que arquitetava a cultura popular na Idade Média e no Renascimento, e que na obra de Abreu, funciona como uma parcela do acabamento de sua arquitetônica, que presenteia a dramaturgia brasileira com belíssimas criações, como esta, inspirando-se em arquétipos da Comédia DellArte, no grotesco, na carnavalização da praça pública, nas práticas do cotidiano, no folclore e na cultura popular brasileira.

ASSUNTO(S)

lingüística - filosofia gêneros discursivos carnavalização bakhtin, mikhail mikhailovitch, 1895-1975 borandá criação colaborativa gêneros do discurso dialogismo fisiologia da linguagem borandá création collaborative carnavalisation genres de discours dialogisme

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