Do planejamento à ação: teoria e realidade da atividade gerencial nos serviços de atenção primária à saúde - o caso de Ribeirão das Neves

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

O planejamento é considerado uma importante ferramenta de gestão na área da saúde. Seu desenvolvimento acompanha as mudanças ocorridas com a reforma da administração pública e a transferência parcial da tomada de decisões para níveis operacionais dos serviços. Em meio a esse cenário, é crescente o número de cursos, capacitações e tecnologias. Detectou-se, por meio do relato da gerente da Atenção Primária, que as capacitações no Município de Ribeirão das Neves partiam do pressuposto de que a gerência não planejava as ações. No entanto, do ponto de vista desta gerente, o que ocorre é um planejar-fazendo. Os questionamentos decorrentes desta afirmação conduziram à exploração da problemática em torno da existência ou não de um planejamento, das dificuldades e das ações realizadas por esta gerência. Buscou-se identificar os fatores propiciadores ou inibidores do planejar; as estratégias criadas pelos trabalhadores para lidar com as dificuldades impostas ao planejamento; e evidenciar as situações empíricas que poderiam explicar o que a gerente descreveu como planejar fazendo. Tais objetivos guiaram a realização desta pesquisa qualitativa, de natureza descritiva e exploratória, desenvolvida por meio de um estudo de caso, eminentemente empírico. O campo de pesquisa foi a Secretaria de Saúde de Ribeirão das Neves, em Minas Gerais. Os sujeitos foram constituídos pela gerente da Atenção Básica do Município de Ribeirão das Neves, gestão 2008-9, e as pessoas com as quais a gerente manteve interações durante o tempo da pesquisa. Essas pessoas foram selecionadas segundo critérios de disponibilidade e relação significativa com o objeto de estudo. De acordo com os resultados obtidos, a elaboração do planejamento é dificultada pela rotatividade nos cargos de gerência e consequente falta de experiência dos gestores, adicionada à própria natureza do trabalho gerencial, que envolve brevidade, variedade, e fragmentação das tarefas. A operacionalização do planejamento enfrenta problemas relacionados à escassez de recursos financeiros e humanos no município, mas também a situações não triviais, envolvendo tanto o monitoramento das equipes quanto o cadastramento de pacientes, o que gera a necessidade de lidar com a incerteza e a imprevisibilidade. O momento de execução do plano encontra obstáculos inesperados relativos à interferência de fatores externos decorrentes do ambiente, como a antecipação da época chuvosa, e de incidentes que envolvem episódios de violência no município, entre outros. Além disso, a implantação de procedimentos derivados de decisões institucionais gerais, que não consideram restrições locais, revelou-se como fonte de novos problemas. Por outro lado, o caso da criação do cargo de Supervisor Regional corroborou o surgimento de estratégias emergentes e de seus aspectos favoráveis. Ademais, foi evidenciado tanto o cumprimento das etapas do planejamento descritas na literatura em saúde quanto o seu efeito positivo para guiar a operacionalização e execução do plano. Durante o enfrentamento de situações conhecidas, as estratégias puderam ser elaboradas e formalizadas por meio de negociações entre setores. O fato de haver rupturas temporais durante a execução do plano (inerentes à natureza do trabalho de gerente) não implica necessariamente ausência de um plano, mas o redirecionamento dinâmico da ação, situada, (o planejar-fazendo) em decorrência eventos do mundo real .

ASSUNTO(S)

engenharia de produção teses. ergonomia teses.

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