Diversificação produtiva e de atividades de geração de renda : uma análise da produção hortícola no cinturão verde da cidade de Maputo - região sul de Moçambique

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

Desde a liberalização da economia em Moçambique, em 1987, o país está a passar por várias transformações políticas, econômicas e sociais. As mudanças que se operaram no país colocam desafios e oportunidades às famílias, que como forma de estabilizarem a sua renda e o consumo realizam uma série de atividades sobrevivência. Visando analisar as estratégias de sobrevivência e os mecanismos de redistribuição do Estado para com os produtores idosos no cinturão verde da Cidade de Maputo, a presente pesquisa quanti-qualitativa, usando uma amostra aleatória de 68 produtores, representando igual número de famílias nas Mahotas e Vale do Infulene é baseada na hipótese teórica de que o acesso aos ativos é decisivo para que as pessoas realizem as atividades que lhes permitem gerar a renda necessária para a sua sobrevivência; essa hipótese é baseada principalmente na abordagem dos Modos de Vida largamente utilizada nos estudos rurais nos países em desenvolvimento; no local a pesquisa procurou responder às questões: (i) quais as atividades e fontes de renda garantem a sobrevivência das famílias; (ii) qual a importância das diferentes atividades e fontes de renda na renda familiar; (iii) qual a relação entre a produção agrícola e as atividades que as famílias realizam fora da machamba; (iv) quais as formas de acesso à terra; (v) qual a ligação entre o crédito, assistência técnica e a diversificação agrícola; e (vi) quais os mecanismos de reciprocidade que asseguram a sobrevivência das famílias e como é esses mecanismos estão ligados às atividades econômicas. Os resultados indicam que a renda agrícola é fundamental para a sobrevivência familiar; ela representa 41% da renda média total familiar; no entanto, a renda agrícola estava correlacionada com os ganhos de emprego formal e as remessas da África do Sul, o que sugere que os ganhos na atividade agrícola podem estar sendo usados para a melhoria da produção agrícola; no entanto, apenas 19% das famílias tinham renda através do emprego formal; as diversas atividades informais de sobrevivência são segregadas em função da divisão biológica do sexo; no entanto, não houve diferenças significativas entre a renda hortícola dos homens e a renda das mulheres, o que sugere que as estratégias para aumentar a eficiência da produção agrícola não deviam ser orientadas pela divisão de sexos. As diversas formas de acesso à terra incluem: (i) a ocupação livre ou distribuição após a independência ou cheias de 2000- é a forma predominante (66%); (ii) a compra (43%); (iii) o aluguel (18%); (iv) a transmissão por herança (15%); e (v) a atribuição pelas associações (18%). Os diferentes mecanismos de acesso foram suficientes para alocar a terra aos produtores; por outro lado, a falta de título não constituía motivo para que os produtores de sentissem inseguros em relação à posse da terra; no entanto a falta de terra própria e família para ajudar eram interpretados como sinônimos de pobreza. O aceso ao crédito tem efeitos significativos na renda, porém apenas uma pequena parte dos produtores (38%) tinha recebido crédito; o xitique representa um mecanismo importante de proteção social e finanças informais, no entanto, não é suficiente para substituir a demanda pelo de crédito; no local, apesar de existir várias instituições de microcrédito, o acesso ao crédito dessas instituições pelos produtores tem muitas restrições. A assistência técnica através dos serviços de extensão rural ainda não se traduz em diferenças significativas na renda dos produtores; a maior parte dos produtores (79%) considera importante a diversificação da produção para a melhoria da renda; no entanto, o nível de diversificação produtiva é ainda baixo. Atualmente vários fatores impedem a realização do potencial de diversificação produtiva: (i) o medo de roubo de cultivos nas machambas; (ii) o receio de alagamento de cultivos; (iii) a falta de sistemas de irrigação e infraestruturas de comercialização; (iv) o menor tamanho das machambas; (v) a falta de sementes de qualidade; etc. A regressão múltipla entre a renda hortícola e a renda das atividades familiares fora da machamba indica que o aumento de 1% de renda fora da machamba pode produzir um aumento de 0,54% sobre a renda total; por outro lado, o aumento de 1% na renda hortícola pode produzir mais ou menos o mesmo impacto, o que sugere que as políticas de redução da pobreza no local devem ter uma característica dual; isto é, que por um lado promovam o desenvolvimento da agricultura enquanto ao mesmo tempo fortalecem o desenvolvimento das atividades fora da machamba. Os mecanismos de redistribuição do Estado para com os produtores idosos são deficientes.

ASSUNTO(S)

horticultural income moçambique horticultura sistemas de produção machamba produção agrícola crop diversification activities geração de renda renda agricola desenvolvimento agrícola

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