Disputas de identidades: a nacionalização do ensino em meio aos ítalo-brasileiros (1900-1930)

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

Neste trabalho busca-se perceber, por meio da Sociologia e da História Cultural, as lutas de representações que envolveram a comunidade escolar ítalo-brasileira do extremo sul catarinense nas primeiras décadas do século XX. Essas lutas estabeleceram-se a partir da inserção de imigrantes europeus em solo brasileiro. A investida imigratória intencionava, especialmente, o branqueamento da população e a construção de uma nação inspirada nos padrões europeus. Porém, inerente às subjetividades do imigrante italiano estava a sua cultura. Nas colônias do extremo sul, marcadas pela predominância étnica italiana, a prática da italianidade era passada de pai para filho. A precariedade do ensino público no Brasil favoreceu a inserção, nas regiões colonizadas pelos imigrantes europeus e seus descendentes, de escolas subsidiadas pelos respectivos países de origem. As chamadas escolas italianas, localizadas no sul catarinense, recebiam subsídios da Itália por meio de dinheiro e livros, bem como de visitas e inspeções de autoridades italianas. Na cidade de Urussanga será instalada, no início do século XX, a Inspetoria das Escolas Italianas do Sul do Estado de Santa Catarina em Urussanga. Essa inspetoria, encarregada por gerenciar as escolas italianas instaladas em solo catarinense oferecerá à cidade visibilidade estadual e nacional. Para entender essa trama, buscou-se vestígios da comunidade escolar ítalo-brasileira em jornais de época, na documentação escolar, nas fontes orais, na legislação vigente à época, nos discursos e relatórios governamentais italianos e brasileiros, nos livros escolares utilizados nas escolas italianas, entre outras fontes. Por meio desse rastreamento, percebeu-se que uma das grandes preocupações dos gestores das escolas italianas estava relacionada à falta de qualificação do corpo docente. A dificuldade de encontrar pessoas qualificadas para essa função estava aliada à realidade das colônias, nas quais constatou-se a existência de um alto grau de analfabetismo. Com isso, foram percebidas algumas iniciativas que objetivavam a formação docente e entre elas destaca-se a Escola Preparatória de Urussanga, instituída em 1917, em comum acordo entre Consulado Italiano e governo brasileiro. A aparente diplomacia estabelecida entre os Estados brasileiro e italiano para a instalação dessa escola, que seguiria dois currículos (brasileiro e italiano), fora abalada frente ao Decreto 1.063 de 1917, que explicitava a proibição aos governos municipais de subvencionar escolas cujo ensino não fosse ministrado exclusivamente em português. Assim, evidencia-se um acirramento entre as lutas de representações que começam a ganhar a atenção do governo estadual a partir de 1911, quando teve início a política nacionalizadora de assimilação progressiva e o Estado catarinense entrou oficialmente em uma disputa simbólica, impondo os símbolos nacionais brasileiros em detrimentos aos italianos.

ASSUNTO(S)

santa catarina - colonização educação italianos - santa catarina educacao ensino - nacionalização identidade étnica

Documentos Relacionados