“DISPUTAR A ‘NEGA’”: UMA ANÁLISE DA EXPRESSÃO POPULAR NA PERSPECTIVA DOS ESTUDOS DE GÊNERO, DISCURSO, RAÇA E CLASSE SOCIAL

AUTOR(ES)
FONTE

Trab. linguist. apl.

DATA DE PUBLICAÇÃO

2021-04

RESUMO

RESUMO Este artigo objetiva discutir a expressão “disputar a ‘nega’” - que integra o universo cultural de muitas regiões do Brasil e constitui práticas sociais em contextos de competição em jogos diversos - na perspectiva dos estudos de gênero, discurso, raça e classe social. Para tanto, nos aportamos teoricamente em autoras e autores que problematizam as relações de gênero de forma interseccional, destacando outras dimensões que perpassam essa categoria, tais como raça, classe, sexualidade, etnia etc. São trazidos à cena teórica os estudos de Angela Davis (2016) e Heleieth Saffioti (2013) sobre gênero, raça e classe e os apontamentos de Norman Fairclough (1998; 2001; 2003) sobre discurso, dentre outros. Intentamos, com isso, usando como ferramenta de análise os princípios da Análise de Discurso Crítica - ADC (FAIRCLOUGH, 2001, 2003; VIEIRA; RESENDE, 2016; MAGALHÃES, 2000), descortinar os discursos ideológicos que subjazem à expressão “disputar a ‘nega’”, bem como compreender sua raiz cultural e histórica, haja vista que a pessoa que é objeto da disputa é uma mulher negra cujo corpo é oferecido como prêmio ao vencedor, sendo, assim, objetificado, subalternizado e instrumentalizado, seguindo a lógica de uma sociedade patriarcal em que o corpo da mulher, e da mulher negra em especial, é usado primordial e essencialmente para servir ao homem em suas necessidades físicas e emocionais. Neste estudo, nos pautamos na concepção butleriana de gênero, por concordarmos que a constituição dessa categoria se dá mediante os confrontos culturais e sociais reiterados cotidianamente pelas práticas discursivas. Em outras palavras, trata-se da preponderância do discurso na constituição dos sujeitos, dado que nos constituímos a partir da outra, do outro. Ao propormos o estudo da expressão em ênfase, na perspectiva da análise interseccional (SCOTT, 1994; BUTLER, 2016; DAVIS, 2016), percebemos que a interseccionalidade de gênero, permeada por outros marcadores sociais, evidencia a subalternização feminina, visto que a categoria mulher, sobretudo a negra e pobre, permanece, ainda nos dias atuais, em condição de objetificação, marginalização e subalternização na sociedade.

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