Discursos e identidades: a emergência do termo trabalhadores do ensino

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

Esta dissertação analisa as representações identitárias formuladas por duas entidades representativas de docentes em Minas Gerais, em fins dos anos 1970, e início dos anos 1980. O objetivo é compreender as maneiras como são reelaboradas as identidades profissionais dos docentes. Para tanto, foi analisado o momento de ruptura institucional ocorrido na Associação dos Professores Primários de Minas Gerais (APPMG) e a criação de uma nova entidade, a União dos Trabalhadores do Ensino de Minas Gerais (UTE-MG). Tratou-se de analisar a emergência do termo trabalhadores do ensino e suas implicações sobre as representações que são construídas acerca das identidades docentes. A pesquisa foi realizada por meio de uma abordagem metodológica qualitativa, utilizando-se da análise documental de periódicos publicados por essas duas entidades no recorte temporal determinado. Para tratamento dos dados coletados utilizou-se a análise do discurso, tendo como referências os trabalhos de Norman Fairclough e Dominique Maingueneau. A pesquisa bibliográfica estabeleceu três subtemáticas de investigação: concepções de identidades profissionais, concepções de identidade social e repercussões do movimento associativista sobre as identidades docentes. Os estudos pesquisados comportam diferentes concepções sobre o conceito de identidade, evidenciando, no entanto, uma tendência de se tratar a identidade como algo unitário, singular. O estudo apresenta duas vertentes básicas de compreensão do processo de construção das identidades individuais e sociais, uma que privilegia a construção das identidades a partir dos processos relacionais de socialização, centrado nas proposições de Claude Dubar, e outra que destaca a construção identitária a partir das lutas sociais. A análise efetuada concluiu que há uma tensão permanente perpassando as formulações identitárias e as identidades docentes, sendo constituídas a partir de processos dinâmicos, que podem conhecer fases de rupturas, de continuidades ou de reelaborações, que comportam múltiplas dimensões, sejam relacionadas aos contextos sócio-históricos, sejam relacionadas às múltiplas experiências relacionais individuais e coletivas pelas quais passam os docentes, tanto no exercício profissional, quanto no que diz respeito aos seus pertencimentos sociais. A partir da pesquisa documental pôde-se comprovar que a imagem do docente como um trabalhador do ensino foi uma formulação que ganhou força a posteriori, tendo a sua matriz discursiva como fruto de uma reelaboração da memória e do passado do movimento reivindicatório dos(as) professores(as). Mesmo a questão identitária não sendo a preocupação central da UTE-MG em seus primórdios, buscar uma referência à ideia de trabalhadores do ensino no plano discursivo foi a estratégia utilizada pela entidade para estabelecer lógicas de ação política diversas das utilizadas pela APPMG. As práticas discursivas em torno da noção de trabalhador do ensino possibilitaram constituir uma identidade organizativa diferenciada, uma postura sindical diversa e se contrapor enquanto entidade de representação à APPMG.

ASSUNTO(S)

educação teses. professores aspectos sociais. educação e estado teses. sindicatos professores teses.

Documentos Relacionados