Determinantes da densidade e distribuição de ninhos e diversidade de espécies de meliponíneos (Apidae, Meliponini) em áreas de cerrado de Itirapina, SP / Determinants of stingless bees (Apidae, Meliponini) nest density and distribution and species diversity in cerrado areas of Itirapina, SP

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

24/08/2011

RESUMO

A pressão antrópica sobre o cerrado vem transformando sua paisagem em um mosaico de fragmentos naturais imersos em uma matriz antropizada. A qualidade da vegetação dos fragmentos remanescentes depende em grande parte das populações de polinizadores, dos quais as abelhas são o grupo mais representativo. As abelhas sem ferrão (Apidae: Meliponini) compõem a maior biomassa de polinizadores nesse bioma. Seus ninhos são feitos usualmente em cavidades de troncos ou no solo e algumas espécies constróem ninhos expostos. Os fatores que levam os meliponíneos a nidificarem em uma determinada região são, a princípio, a disponibilidade de recursos (sítios de nidificação e alimento) e o comportamento competitivo intra e interespecífico. Mas esses não são os únicos determinantes, pois os fatores que levam as populações a se manterem, se expandirem ou se reduzirem nessa região estão ligados também à resposta de cada espécie ao grau de antropização da paisagem. O objetivo geral dessa tese foi investigar como fatores naturais e antrópicos afetam a nidificação de meliponíneos em ambiente de cerrado, visando responder às seguintes questões: a) Diferenças estruturais entre fitofisionomias de cerrado se refletem na composição de espécies? b) Como a redução das áreas naturais de cerrado e sua substituição por paisagens rurais e urbanas afetam as populações de ninhos de meliponíneos? e c) Como o relacionamento genético e a obtenção de recurso alimentar afetam a distribuição das colônias em uma área de cerrado? Para responder a essas questões, esta tese foi dividida em três capítulos: No capítulo 1, o objetivo foi compreender se e como a distribuição dos ninhos de Meliponini variaria entre três fisionomias de cerrado, campo sujo, campo cerrado e cerradão em Itirapina, SP, e como essa variação estaria relacionada a diferenças na disponibilidade de sítios de nidificação e de alimento em cada uma delas. Foi realizado um levantamento dos ninhos e uma avaliação da quantidade e composição de espécies de árvores em cada uma dessas fisionomias, além da contagem de plantas floridas durante 20 meses. Foram localizados 50 ninhos de Meliponini, sendo 17 no campo sujo (todos de Trigona spinipes), 19 no campo cerrado (18 de T. spinipes e um de Melipona quadrifasciata), 12 no cerradão (cinco de T. spinipes, três de Tetragonisca angustula, dois de Leurotrigona muelleri, um de Trigona hyalinata e um de Plebeia droryana) e dois de T. spinipes fora da área amostrada. A maior quantidade de árvores foi encontrada no cerradão, enquanto o maior número de plantas floridas foi encontrado no campo sujo. No capítulo 2, o objetivo foi avaliar o efeito da substituição das áreas naturais de cerrado por paisagens agrícolas e urbanizadas sobre as populações de Meliponini como um todo, e particularmente sobre abelhas Melípona. Os resultados obtidos em 31 levantamentos de ninhos em áreas de cerrado, além do levantamento feito em Itirapina, foram relacionados ao grau de antropização da paisagem. A avaliação da paisagem foi feita por meio da análise e classificação de imagens de satélite do entorno dos levantamentos. A riqueza de espécies de Meliponini se correlacionou negativamente com a proporção de áreas rurais, mas a composição de espécies se correlacionou positivamente. A composição de espécies se relacionou positivamente ao porte da vegetação também. Por sua vez, a densidade de ninhos e a composição de espécies de Melípona se correlacionaram negativamente com a proporção de áreas rurais. No capítulo 3, o objetivo foi verificar o grau de relacionamento genético e sua influência na distribuição das colônias de T. spinipes na paisagem, a distância utilizada para o forrageamento e o compartilhamento ou não de alimento entre colônias. Para isso, realizamos um estudo com marcadores de microssatélites entre as colônias levantadas no capítulo 1, além um experimento de distância de forrageamento. As colônias vizinhas apresentaram um baixo grau de relacionamento genético entre si, mas as operárias coletadas em uma mesma flor apresentaram alto grau. A distância de forrageamento foi maior que a distância entre colônias vizinhas. Concluiu-se que: a) Fitofisionomias campestres podem apresentar uma abundância de ninhos maior do que fitofisionomias florestais, mas as fitofisionomias florestais podem apresentar uma riqueza maior de espécies. O tamanho da amostra pode subestimar a riqueza de espécies das fitofisionomias florestais. A relação positiva entre a composição de espécies de Meliponini e o porte da vegetação indica que há preferência de algumas espécies por determinada fitofisionomia. No entanto, a detecção de um padrão torna-se difícil dada a ubiquidade das espécies de comportamento mais plástico. b) A antropização pode ter um efeito negativo sobre as populações de Meliponini, podendo levar à perda de espécies. Para espécies de comportamento mais plástico, as áreas antropizadas não oferecem limitação de recursos, mas para espécies de comportamento mais restritivo, a substituição das áreas naturais pode ter um efeito deletério sobre suas populações. c) O baixo grau de relacionamento genético entre colônias próximas indica que não há limitação de fluxo gênico para T. spinipes. A capacidade de suas operárias em dominar um recurso floral pode excluir competitivamente abelhas de espécies menos agressivas. Se a matriz antropizada apresentar limitação de recursos, espécies de comportamento menos agressivo poderão não conseguir obter recursos alimentares, ficando isoladas em fragmentos de áreas naturais. O isolamento pode levar à perda de variabilidade genética e, consequentemente, à perda de espécies. Portanto, políticas de conservação que visem a proteção das espécies de Meliponini devem levar em conta não apenas a quantidade de árvores de uma região, mas também a qualidade e a heterogeneidade da vegetação, tanto nas áreas de proteção ambiental quanto nas áreas entre elas.

ASSUNTO(S)

antropização cerrado meliponini meliponini; brazilian savanna; antropization

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