Desgaste nutricional e consumo alimentar de migrantes safristas cortadores de cana
AUTOR(ES)
Veronica Gronau Luz
DATA DE PUBLICAÇÃO
2010
RESUMO
A Saúde do Trabalhador vem dando atenção à saúde física, mental e psico-social dos cortadores de cana de açúcar pela alta demanda de esforço físico a que são submetidos para cumprir metas de volume de corte, e pelo aumento dos casos de mortes no trabalho. Esta pesquisa teve como objetivo caracterizar as condições de trabalho de migrantes safristas cortadores de cana e avaliar o comportamento nutricional e da composição corporal ao longo da safra, na região de Piracicaba - SP, Brasil. Visou também avaliar a qualidade da dieta e os componentes alimentares deste grupo comparando a ingestão e o gasto energético da jornada de trabalho. Realizamos um estudo descritivo longitudinal em um grupo intencionalmente selecionado de trabalhadores no corte manual de cana, em Elias Fausto, SP. Eles responderam a um questionário sócio-demográfico e permitiram aferir suas medidas antropométricas para o calcularmos o Índice de Massa Corporal, o Percentual de Gordura Corporal e a Circunferência Muscular do Braço em três momentos da safra. Colhemos dados individuais sobre ingestão hídrica, reposição eletrolítica e alimentação durante o período de trabalho, complementados com a descrição qualitativa e quantitativa das marmitas do almoço em três dias distintos por observação direta no local onde as refeições foram preparadas. O gasto energético durante a jornada de trabalho foi comparado com o consumo do mesmo período. Ao final da safra foi retirada amostra de sangue total para dosar Creatino Quinase na isoforma da musculatura esquelética, proteína C reativa e uréia plasmática, como marcadores bioquímicos de inflamação. Acompanhamos durante quatro meses trinta homens migrantes safristas provenientes do Estado do Ceará com idade entre 18 e 44 anos. Os trabalhadores apresentaram perdas significativas de gordura corporal e peso do início até a metade da safra sem recuperação até o final. Todos ganharam massa magra e os de ingresso mais antigo na atividade ganharam menos. Foram encontrados níveis anormais de Creatino Quinase (75,0%) e Uréia (16,7%) entre os safristas. Os cortadores ingeriam no mínimo 5 litros de água por dia e a diluição dos repositores eletrolíticos era feita de forma inadequada. A alimentação foi monótona, com baixa qualidade, fria e diferente dos hábitos alimentares dos trabalhadores. As marmitas apresentaram variação do valor energético entre 1000 e 1300 calorias. Os trabalhadores que consumiram mais energia do que os gastos estimados apresentaram menor perda de percentual de gordura corporal (p=0,03). Encontramos evidências de que o trabalho no corte manual de cana gera perda de peso e de gordura corporal com aumento de massa magra com alterações importantes de marcadores bioquímicos de inflamação crônica e sistêmica. São necessários mais estudos longitudinais nesta população para entender melhor a relação esforço, desgaste, longevidade e saúde no corte de cana. Não é possível afirmar que a quantidade diária total ingerida fosse insuficiente em relação ao gasto, mas a dieta foi monótona e pobre em nutrientes. Estudos adicionais sobre a alimentação desta população poderiam melhorar o manejo dos repositores eletrolíticos para minimizar o desgaste gerado pelo excesso de trabalho
ASSUNTO(S)
nutrition assessment antropometria condições de trabalho working conditions occupational health anthropometry avaliação nutricional saude do trabalhador
ACESSO AO ARTIGO
http://libdigi.unicamp.br/document/?code=000480776Documentos Relacionados
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